Um dos grandes objetivos do trabalho do WWF-Brasil é o estabelecimento de "links de mercado": uma expressão que retrata as transações comerciais entre empresas interessadas no conceito de desenvolvimento sustentável; e comunidades que buscam a produção de forma responsável, respeitando o meio ambiente.
Por isso é interessante compartilhar notícias como essa: nos últimos meses, a Associação de Produtores Rurais do Parque das Ciganas, da cidade de Feijó, no Acre, vendeu 57 toneladas de açaí para a empresa Frutas Baixo Acre, situada em Boca do Acre, no Amazonas.
A safra do açaí em Feijó, que nessa região acontece de março a maio, beneficiou 78 famílias instaladas nas margens do rio Jurupari.
A transação foi efetuada com o apoio do WWF-Brasil - em abril os produtores do Parque das Ciganas tiveram contato pela primeira vez com a empresa, durante o evento intitulado Intercâmbio Agroflorestal Purus-Tarauacá-Envira.
Na ocasião, 22 agricultores e técnicos rurais extensionistas passaram uma semana viajando pelo sudoeste da Amazônia visitando e conhecendo experiências de produção rural que não desmatam e nem usam o fogo - garantindo assim a geração de renda e a conservação dos recursos florestais.
Este tipo de transação comercial reforça e valoriza a cultura das populações extrativistas amazônicas, que tiram seu sustento a partir da floresta em pé - sem precisar recorrer a outras alternativas econômicas insustentáveis para sobreviver.
Critérios responsáveis
Esta venda é importante também porque ocorre nos rincões da Amazônia, onde a comunicação e o transporte são dificílimos.
No Parque das Ciganas, por exemplo, a venda de açaí tornou-se uma realidade há menos de dois anos, quando a BR-364 foi asfaltada, abrindo uma via de escoamento da produção das famílias ribeirinhas - algo que não existia por ali até então.
Nesta comunidade, o WWF-Brasil apoia o fomento de boas práticas agroflorestais e a produção da Folha Defumada Líquida - FDL (uma borracha beneficiada ainda dentro da floresta e que, por sua qualidade superior, é destinada à indústria).
Além disso, o WWF-Brasil vê esses "links de mercado" como uma grande oportunidade de fortalecer a produção rural na Amazônia: aliando a geração de renda (para as empresas e comunidades) com a conservação dos recursos naturais.
Vendedor animado
Um dos produtores de açaí do Parque das Ciganas, Graceílde Antonio de Souza, contou que está bem feliz com a venda para o novo cliente: "antes, nós não trabalhávamos com açaí porque não tínhamos comprador fixo. Nossa produção estragava. Agora está bom: posso comercializar o meu produto duas vezes por semana e, com o dinheiro que ganho, é possível comprar mercadorias para a minha família. Estou bem animado e, enquanto tiver açaí, vou vender", afirmou.
Um dos sócios da empresa Frutas Baixo Acre, Richard Cain, afirmou que prefere negociar com comunidades produtoras, e não com atravessadores, porque elas tem mais cuidado com o produto que é extraído da natureza: "geralmente, ao comprarmos das comunidades, o produto é de melhor qualidade, pois os ?tiradores? têm mais cuidado e preocupação com o açaí. Desta maneira, nós mantemos nosso negócio viável e incentivamos a conservação das florestas".
Segundo a analista de conservação do WWF-Brasil, Kaline Rossi, o manejo de produtos como a borracha e o açaí garante que as florestas se mantenham saudáveis: "isso reforça a importância das florestas, não só para as populações tradicionais, que obtém renda para viver dignamente, mas também para a sociedade, que se beneficia dos diversos serviços ecossistêmicos que a floresta em pé provê", explicou.
Protegendo Florestas
A Associação dos Produtores do Parque das Ciganas é uma das várias organizações da sociedade civil que recebem apoio institucional, técnico e financeiro do WWF-Brasil.
Ela é uma das associações parceiras do projeto Protegendo Florestas (Sky Rainforest Rescue), desenvolvido pelo WWF em parceria com a rede de tevê britânica Sky e o Governo do Acre - cujo objetivo é dar alternativas para que os comunitários e ribeirinhos da Amazônia possam viver dos recursos da floresta sem desmatá-la.
Por meio deste projeto, o WWF já promoveu, junto aos extrativistas do Parque das Ciganas, ações de capacitação, doação de equipamentos, ações de fortalecimento institucional e articulação para o estabelecimento de links de mercado, entre outras atividades.