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DINO - 27 fev, 2019) - A partir de uma série de iniciativas do setor financeiro e da própria autoridade monetária, 2018 foi o ano em que o segmento de meios de pagamento avançou de maneira significativa. Com uma série de aberturas de capital de empresas do setor e medidas estratégicas promovidas pelo Banco Central, com foco em desregulamentar a entrada de novos players, é esperado que o ano de 2019 consolide os ganhos com o surgimento de novas soluções. Resultado disso foi a própria evolução das fintechs, empresas especializadas em tecnologia para o setor financeira. Do universo total desse perfil de empresas contabilizadas no País (404), 26% atuam no mercado de meios de pagamentos, segundo levantamento feito pelo Radar Fintechlab. Duas delas deram o que falar, especialmente por trazer à tona o poder que elas podem ter em comparação com os tradicionais players do setor.O PagSeguro e a Stone, que disputam mercado de maquininhas de cartão com as gigantes Cielo e Rede, realizaram em 2018 suas ofertas públicas iniciais de ações (IPO, na sigla em inglês) no mercado norte-americano, levando a um movimento de empresas brasileiras de tecnologia em abrir capital fora do Brasil. O PagSeguro arrecadou na sua oferta um total de US$ 2,6 bilhões, levando na oportunidade o seu valor a registrar cerca de US$ 9 bilhões. A Stone, por sua vez, captou US$ 1,5 bilhão.É nessa toada que muitas empresas de tecnologia financeira devem buscar seus espaços de atuação. 'O mercado está cada vez mais competitivo. As fintechs estão gerando muito interesse de investidores, e elas estão mais capitalizadas. Esse movimento, junto com iniciativas do Banco Central, geram um mercado mais justo e com maior competição', afirma João Miranda, sócio-fundador da Hash, especializada em infraestrutura de pagamentos. A empresa é fruto desse movimento de evolução no ecossistema de meios de pagamentos. Ele é egresso do Pagar.me, empresa do Grupo Stone, conglomerado de meios de pagamentos com valor de mercado estimado em cerca de US$ 9 bilhões. Saiu de lá para fundar, em 2017, a Hash. A ideia da fintech é oferecer toda a infraestrutura para que uma empresa possa criar suas próprias soluções de pagamento, em um modelo semelhante ao do PagSeguro e do PayPal. O empreendedor entende que as oportunidades em diferentes nichos de atuação podem ser exploradas por meio de soluções de pagamentos customizadas. Uma série de discussões estão sendo realizadas pelo Banco Central com o objetivo de fortalecer o ambiente de inovação oferecidas por essas fintechs. A partir de uma iniciativa conhecida como Agenda BC+, a autoridade monetária vem estipulando um conjunto de medidas para aumentar a eficiência do sistema financeiro. O presidente da instituição, Ilan Goldfajn, afirmou no início deste mês que há uma fila de fintechs interessadas em pedir autorização para operar no Brasil.A visão de empreendedores é que a centralização de soluções em torno de poucos players empobrece a qualidade de ofertas dentro desse meio. 'A qualidade do serviço prestado ainda está muito aquém do que poderia ser. Ainda é pouco tecnológico, muito caro e muito burocrático', afirma Miranda. Segundo ele, a descentralização ajuda a resolver essa questão em diversas camadas e relacionamentos diferentes. 'Antes enxergávamos a descentralização como a abertura das bandeiras para novas adquirentes. Hoje, já temos pessoas fazendo transação financeira sem um banco e realizando empréstimo sem a necessidade de um intermediador', ressalta.Esse é um outro ponto que está reforçando a atuação das fintechs: a forma como os próprios consumidores enxergam a relação com instituições tradicionais. Uma pesquisa realizada pelo Google, com 800 consumidores online de serviços financeiros, mostrou que 46% dos usuários ainda usam instituições financeiras tradicionais como principal provedor, mas a diferença de satisfação quando comparado com serviços promovidos por fintechs. Segundo o levantamento, 71% dos clientes das fintechs dizem estar satisfeitos, contra 42% dos clientes das instituições financeiras tradicionais. Segundo Miranda, o momento de prova das fintechs diante dos usuários já passou. Agora é esperado que haja uma consolidação por parte dessas novas companhias. 'É o ponto de educação como em toda tecnologia. Passamos por uma primeira onda, em que as fintechs brigavam pelos seus primeiros usuários - aqueles que estavam mais dispostos a arriscar', diz. 'Hoje, uma grande parte das pessoas já não têm mais medo de usar um serviço novo, uma vez que esses lhes trazem vantagens tangíveis que o método tradicional não traria', complementa.