Releases 12/08/2025 - 18:49

Trump impõe tarifa de 50% sobre exportações brasileiras: consequências para o país e perspectivas


Medida anunciada pelo presidente dos EUA em 1º de agosto deve impactar setores como aço, alumínio e agroindústria.

Contexto político e comercial

Em 30 de julho de 2025, o presidente Donald Trump assinou uma ordem executiva estabelecendo uma tarifa de 50% sobre importações brasileiras, com vigência a partir de 6 de agosto.

Trump justificou a medida como reação a uma “caça às bruxas” contra seu aliado político, Jair Bolsonaro, acusando o sistema judiciário brasileiro de perseguições.

O vice-presidente brasileiro, Geraldo Alckmin, estimou que cerca de 35,9% das exportações brasileiras para os EUA serão afetadas, considerando que 45% estão isentas da nova sobretaxa e 20% já eram tributadas com alíquotas elevadas.

Em documento publicado em 31 de julho de 2025 pelo Escritório do Representante Comercial dos Estados Unidos (United States Trade Representative - USTR), os EUA afirmam que o Brasil e outros países - como Índia, Taiwan e Suíça - impõem um alto volume de barreiras e tarifas contra produtos americanos. O relatório de 397 páginas ainda destaca que o Brasil mantém tarifas relativamente altas sobre as importações em diversos setores.

Segundo dados do governo americano, em 2024, os EUA importaram cerca de US$ 42 bilhões em produtos brasileiros, enquanto o Brasil comprou US$ 44 bilhões em produtos dos Estados Unidos, registrando um superávit de US$ 3 bilhões.

Produtos excluídos e afetados pela sobretaxa: reflexos na dinâmica setorial

O decreto assinado pela Casa Branca traz uma lista com cerca de 700 produtos excluídos da sobretaxa. Entre eles estão aviões civis, celulose, suco de laranja, petróleo, minério de ferro e alguns tipos de metais.

A tarifa de 50% imposta pelos EUA afetará diretamente 35,9% da pauta exportadora brasileira para aquele país. Entre os produtos mais impactados, destacam-se:
Café não torrado (4,7% das exportações brasileiras para os EUA)
Carne bovina congelada (2,2%)
Outros açúcares de cana (1,1%)
Carregadoras e pás carregadoras (1,2%)

Impacto econômico esperado

Perda de receitas significativas: estudo da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) aponta que, mesmo com as isenções concedidas, o PIB brasileiro pode sofrer um impacto negativo de R$ 25,8 bilhões no curto prazo.

Pressão sobre o PIB real: a decisão dos EUA de impor a tarifa poderá causar uma redução de até 0,4 ponto percentual no Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, segundo estimativas do banco Goldman Sachs.

Queda nas bolsas e fuga de capitais: o real sofreu desvalorização, chegando a R$ 5,50 por dólar, refletindo a incerteza gerada pela medida. O Ibovespa registrou queda de 1,31%, fechando a 137.480,79 pontos após o anúncio de Trump.

Estratégias de resposta do governo brasileiro

O governo brasileiro definiu e está implementando uma estratégia com quatro frentes para reagir ao tarifaço imposto pelos EUA.

Diplomacia paralela e negociações
A primeira frente é a negociação direta com Washington. O Brasil busca abrir canais de diálogo com as autoridades americanas, mesmo diante de negativas e resistências, visando suavizar os impactos da medida.

Foco em alívio interno em vez de retaliações imediatas
A segunda frente envolve a mitigação dos efeitos internos das tarifas, buscando amortecer as perdas por meio de incentivos à exportação para outros mercados, apoio financeiro emergencial, flexibilização tributária, entre outras medidas.

Diversificação e redirecionamento de mercados
A terceira frente consiste na diversificação dos mercados e parceiros comerciais, incluindo esforços para aprovar o acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia, além de visitas a parceiros estratégicos como Japão, Vietnã, China e outros países do BRICS.

Marco legal próprio: Lei de Reciprocidade Econômica
A última frente é a possível retaliação comercial, que tem sido evitada até o momento. Entretanto, o governo já iniciou estudos técnicos para avaliar mecanismos de reciprocidade, caso as negociações não avancem ou novas medidas sejam adotadas pelos EUA.

Sanções americanas contra compradores de energia russa: impacto potencial para o Brasil

Paralelamente à crise comercial com os EUA, os senadores Lindsey Graham (Republicano-SC) e Richard Blumenthal (Democrata-CT) apresentaram em 2025 o "Sanctioning Russia Act".

Essa proposta bipartidária concede ao presidente americano autoridade para impor uma tarifa mínima de 500% sobre todas as importações originárias de países que adquiram petróleo, gás, urânio ou outros produtos energéticos da Rússia.

O projeto prevê ainda sanções primárias e secundárias, incluindo congelamento de ativos, exclusão do sistema bancário e proibição de investimentos relacionados à Federação Russa ou suas redes de energia.

Como comprador significativo de combustíveis russos (diesel, fertilizantes, gasóleo) e membro do BRICS, o Brasil poderia ser penalizado caso mantenha ou amplie essas compras.

O senador Graham afirmou: "Se vocês continuarem comprando petróleo russo barato... nós vamos aplicar tarifas pesadas contra vocês", referindo-se a Índia, China e Brasil.

Implicações econômicas, estratégicas e diplomáticas para o Brasil diante do Sanctioning Russia Act

• Risco de aplicação da tarifa punitiva de 500% sobre exportações brasileiras para os EUA devido à continuidade da compra de energia russa
• Impacto na credibilidade da estratégia de diversificação exportadora do Brasil, ao manter importações significativas de petróleo russo
• Desafios diplomáticos e necessidade de negociações junto ao Congresso americano para mitigar possíveis sanções relacionadas às compras de energia russa

Conclusão: um cruzamento de tensões multilaterais

A imposição de tarifas de 50% sobre as exportações brasileiras configura uma escalada geopolítica complexa que transcende o âmbito meramente comercial. Essa medida expõe o Brasil a perdas econômicas substanciais, especialmente em setores estratégicos como aço, agronegócio e aeronáutica, além de pressionar a estabilidade do real e do mercado financeiro, sinalizando um ambiente de crescente incerteza econômica.

A resposta brasileira, que combina instrumentos legais como a Lei de Reciprocidade, estratégias diplomáticas e medidas internas contingenciais, revela a busca por um equilíbrio delicado entre a defesa dos interesses econômicos e a contenção de uma guerra comercial de retaliações automáticas. Essa postura pragmática, entretanto, enfrenta o desafio adicional das sanções vinculadas às importações de energia russa, que ampliam a vulnerabilidade estratégica do país e impõem a necessidade de revisitar prioridades entre diversificação comercial e segurança energética.

Num cenário em que a política comercial dos EUA se torna cada vez mais assertiva e alinhada a objetivos geopolíticos, exemplificado pelo endurecimento promovido pela administração Trump e pelo Congresso, o Brasil se vê diante de um dilema multifacetado. Preservar a autonomia diplomática e a integridade do relacionamento comercial com os Estados Unidos exige um delicado exercício de gestão política e econômica, onde o risco de sanções extraordinárias pode comprometer tanto o acesso a mercados vitais quanto a posição estratégica do país no tabuleiro internacional.

"A pesquisa de mercado foi conduzida usando dados de fontes abertas"

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