Medida anunciada pelo presidente dos EUA em
1º de agosto deve impactar setores como aço, alumínio e agroindústria.
Contexto político e comercial
Em
30 de julho de 2025, o presidente Donald Trump assinou uma ordem executiva estabelecendo uma tarifa de
50% sobre importações brasileiras, com vigência a partir de
6 de agosto.
Trump justificou a medida como reação a uma “caça às bruxas” contra seu aliado político, Jair Bolsonaro, acusando o sistema judiciário brasileiro de perseguições.
O vice-presidente brasileiro, Geraldo Alckmin, estimou que cerca de
35,9% das exportações brasileiras para os EUA serão afetadas, considerando que
45% estão isentas da nova sobretaxa e
20% já eram tributadas com alíquotas elevadas.
Em documento publicado em 31 de julho de 2025 pelo Escritório do Representante Comercial dos Estados Unidos (United States Trade Representative - USTR), os EUA afirmam que o Brasil e outros países - como Índia, Taiwan e Suíça - impõem um alto volume de barreiras e tarifas contra produtos americanos. O relatório de 397 páginas ainda destaca que o Brasil mantém tarifas relativamente altas sobre as importações em diversos setores.
Segundo dados do governo americano, em 2024, os EUA importaram cerca de
US$ 42 bilhões em produtos brasileiros, enquanto o Brasil comprou
US$ 44 bilhões em produtos dos Estados Unidos, registrando um superávit de US$ 3 bilhões.
Produtos excluídos e afetados pela sobretaxa: reflexos na dinâmica setorial
O decreto assinado pela Casa Branca traz uma lista com cerca de
700 produtos excluídos da sobretaxa. Entre eles estão aviões civis, celulose, suco de laranja, petróleo, minério de ferro e alguns tipos de metais.
A tarifa de
50% imposta pelos EUA afetará diretamente
35,9% da pauta exportadora brasileira para aquele país. Entre os produtos mais impactados, destacam-se:
•
Café não torrado (4,7% das exportações brasileiras para os EUA)
•
Carne bovina congelada (2,2%)
•
Outros açúcares de cana (1,1%)
•
Carregadoras e pás carregadoras (1,2%)
Impacto econômico esperado
Perda de receitas significativas: estudo da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (
Fiemg) aponta que, mesmo com as isenções concedidas, o PIB brasileiro pode sofrer um impacto negativo de
R$ 25,8 bilhões no curto prazo.
Pressão sobre o PIB real: a decisão dos EUA de impor a tarifa poderá causar uma redução de até
0,4 ponto percentual no Produto Interno Bruto (
PIB) do Brasil, segundo estimativas do banco Goldman Sachs.
Queda nas bolsas e fuga de capitais: o real sofreu desvalorização, chegando a R$ 5,50 por dólar, refletindo a incerteza gerada pela medida. O Ibovespa registrou queda de 1,31%, fechando a 137.480,79 pontos após o anúncio de Trump.
Estratégias de resposta do governo brasileiro
O governo brasileiro definiu e está implementando uma estratégia com
quatro frentes para reagir ao tarifaço imposto pelos EUA.
Diplomacia paralela e negociações
A primeira frente é a negociação direta com Washington. O Brasil busca abrir canais de diálogo com as autoridades americanas, mesmo diante de negativas e resistências, visando suavizar os impactos da medida.
Foco em alívio interno em vez de retaliações imediatas
A segunda frente envolve a mitigação dos efeitos internos das tarifas, buscando amortecer as perdas por meio de incentivos à exportação para outros mercados, apoio financeiro emergencial, flexibilização tributária, entre outras medidas.
Diversificação e redirecionamento de mercados
A terceira frente consiste na diversificação dos mercados e parceiros comerciais, incluindo esforços para aprovar o acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia, além de visitas a parceiros estratégicos como Japão, Vietnã, China e outros países do BRICS.
Marco legal próprio: Lei de Reciprocidade Econômica
A última frente é a possível retaliação comercial, que tem sido evitada até o momento. Entretanto, o governo já iniciou estudos técnicos para avaliar mecanismos de reciprocidade, caso as negociações não avancem ou novas medidas sejam adotadas pelos EUA.
Sanções americanas contra compradores de energia russa: impacto potencial para o Brasil
Paralelamente à crise comercial com os EUA, os senadores
Lindsey Graham (Republicano-SC) e
Richard Blumenthal (Democrata-CT) apresentaram em 2025 o
"Sanctioning Russia Act".
Essa proposta bipartidária concede ao presidente americano autoridade para impor uma tarifa mínima de 500% sobre todas as importações originárias de países que adquiram petróleo, gás, urânio ou outros produtos energéticos da Rússia.
O projeto prevê ainda sanções primárias e secundárias, incluindo congelamento de ativos, exclusão do sistema bancário e proibição de investimentos relacionados à Federação Russa ou suas redes de energia.
Como comprador significativo de combustíveis russos (diesel, fertilizantes, gasóleo) e membro do
BRICS, o Brasil poderia ser penalizado caso mantenha ou amplie essas compras.
O senador Graham afirmou:
"Se vocês continuarem comprando petróleo russo barato... nós vamos aplicar tarifas pesadas contra vocês", referindo-se a Índia, China e Brasil.
Implicações econômicas, estratégicas e diplomáticas para o Brasil diante do Sanctioning Russia Act
• Risco de aplicação da tarifa punitiva de 500% sobre exportações brasileiras para os EUA devido à continuidade da compra de energia russa
• Impacto na credibilidade da estratégia de diversificação exportadora do Brasil, ao manter importações significativas de petróleo russo
• Desafios diplomáticos e necessidade de negociações junto ao Congresso americano para mitigar possíveis sanções relacionadas às compras de energia russa
Conclusão: um cruzamento de tensões multilaterais
A imposição de tarifas de
50% sobre as exportações brasileiras configura uma escalada geopolítica complexa que transcende o âmbito meramente comercial. Essa medida expõe o Brasil a perdas econômicas substanciais, especialmente em setores estratégicos como aço, agronegócio e aeronáutica, além de pressionar a estabilidade do real e do mercado financeiro, sinalizando um ambiente de crescente incerteza econômica.
A resposta brasileira, que combina instrumentos legais como a
Lei de Reciprocidade, estratégias diplomáticas e medidas internas contingenciais, revela a busca por um equilíbrio delicado entre a defesa dos interesses econômicos e a contenção de uma guerra comercial de retaliações automáticas. Essa postura pragmática, entretanto, enfrenta o desafio adicional das sanções vinculadas às importações de energia russa, que ampliam a vulnerabilidade estratégica do país e impõem a necessidade de revisitar prioridades entre diversificação comercial e segurança energética.
Num cenário em que a política comercial dos EUA se torna cada vez mais assertiva e alinhada a objetivos geopolíticos, exemplificado pelo endurecimento promovido pela administração Trump e pelo Congresso, o Brasil se vê diante de um dilema multifacetado. Preservar a autonomia diplomática e a integridade do relacionamento comercial com os Estados Unidos exige um delicado exercício de gestão política e econômica, onde o risco de sanções extraordinárias pode comprometer tanto o acesso a mercados vitais quanto a posição estratégica do país no tabuleiro internacional.
"A pesquisa de mercado foi conduzida usando dados de fontes abertas"
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