Releases 21/10/2015 - 15:22

5 momentos da carreira vitoriosa de Gustavo Kuerten que servem de exemplos para um empreendedor


(DINO - 21 out, 2015) - Por Fábio Di Giacomo*

Tricampeão de Roland Garros e primeiro no Ranking Mundial por 43 semanas, Gustavo Kuerten publicou um livro e realiza palestras para compartilhar os vários desafios e momentos de superação de sua vitoriosa carreira, como fez no evento Day 1 realizado pela Endeavor, em vídeo que pode ser assistido aqui.

"A nossa real capacidade está muito além do que a gente consegue enxergar", disse ao final da palestra o atleta que mudou a visão do tênis para muitos brasileiros. Esse foi um dos momentos que chamaram a minha atenção, como executive coach, sobre como os desafios de um atleta de alta performance têm relação com as dificuldades e necessidades dos empreendedores e executivos atualmente.

Integrar razão com a emoção frente a um desafio, criar uma mistura equilibrada dos dois, lidar com o stress, utilizar o máximo do seu potencial e aprender sobre si mesmo com o que aconteceu. São fatores que impactam nos resultados de líderes que buscam a alta performance, e que são baseados em conceitos que utilizamos em processos de coaching. Especialmente de Tim Gallwey, considerado o pai do coaching e criador do conceito "Jogo Interior" ? que nasceu no mundo do tênis e vem ganhando espaço no mundo corporativo ? e de Tony Robbins, um dos principais coaches da atualidade, eles falam da importância da virada de chave nos estados emocionais a partir da nossas necessidades.

De acordo com minha percepção sobre as experiências do tricampeão, compartilho cinco relações do esporte com o nível corporativo. São elas:

Necessidade de Certeza: A convicção sobre nós mesmos nos dá a certeza e a confiança que precisamos para desempenhar em nosso máximo potencial. Guga cita o jogo das quartas de final de seu primeiro título, em 97, contra o favorito Yevgeny Kafelnikov, quem o brasileiro considerava "imbatível" e, por isso, tinha certeza de que perderia. Somente durante o meio do jogo percebeu que poderia vencer e, ao final da partida, tinha certeza que seria campeão.

Entramos em um ciclo de sucesso ou fracasso comandados por convicções que temos. Quando não acreditamos em alguma coisa, nossas ações passam a ser pequenas e, mesmo que tenhamos muito potencial, não agimos, presos à crença de que não vai funcionar. Esse ciclo de fracasso se transforma em ciclo de sucesso quando eu mudo a minha convicção, o meu senso de certeza. A convicção sobre nós mesmos nos dá a certeza e a confiança que precisamos para desempenhar em nosso máximo potencial.

Performance = Potencial ? Interferência: O aumento da performance vem de um processo de tomada de consciência do seu potencial e do que está gerando interferência interna, isso gera mais confiança e nos leva a fazer melhores escolhas. A interferência é a voz interior que tira o silêncio da nossa mente, tira a concentração e nos desgasta. Kuerten relata isso na final pela conquista do bicampeonato, com Magnus Norman, quando era favorito e oscilava pensamentos durante a partida de que já havia ganho e, quando errava, que perderia com certeza, numa montanha russa de emoções.

Quando fazemos algo que entendemos ser errado, iniciamos um processo de julgamento das nossas próprias habilidades e muitas vezes da nossa própria capacidade, e criamos uma profecia autorrealizável que passa a ser um dos nossos maiores sabotadores. Uma bola fora poder levar ao pensamento de que foi errado, uma segunda bola fora pode induzir a achar que tudo está dando errado hoje, e várias bolas fora, podem fazer você se sentir horrível. O aumento da performance vem de um processo de tomada de consciência do seu potencial e do que está gerando interferência interna, isso gera mais confiança e nos leva a fazer melhores escolhas.

Necessidade de significância: "Mais difícil do que chegar no topo é se manter". O tenista comenta que o primeiro título foi "sem querer", mas os seguintes trouxeram o peso da comprovação. A necessidade de significância está ligada a um medo que todo ser humano tem, e que carrega desde criança, o medo da rejeição. Buscamos ser aceitos pelas pessoas e o sucesso ? já ser campeão, ser promovido, mudar de cargo, se tornar Líder ? gera mais pressão, pois traz junto o medo do fracasso, ativando o nosso jogo interior e nos colocando pressão para acertar em tudo.

No mundo organizacional temos um ponto a nosso favor: embora não pareça: dá para parar. Em nosso dia a dia, seja para chegar ao topo ou se manter no topo, corremos o risco de entrar no piloto automático e ser dominado pelo jogo interior, e nesse momento é importante fazer um STOP. Desenvolver a capacidade de parar para tomar consciência de si, de seus Modelos Mentais e do que está acontecendo ao redor passa a ser fator fundamental de sucesso ou de fracasso. A parada se torna mais do que necessária, ela passa a ser a diferença para a alta performance.

A força de um propósito: Quando não temos clareza do propósito, qualquer obstáculo nos impede de continuar. O propósito nos dá direcionamento e consequentemente foco, força e motivação para seguir em frente. É algo maior do que um objetivo, ele não é realizável e sim vivido, no dia a dia. É a razão pela qual fazemos algo, é algo que nos alimenta diariamente, nos inspira!

Guga não tinha onde treinar em seu início de carreira, e poderia ter desistido antes mesmo de ter começado. Em vez disso, conseguiu com a ajuda de parentes e amigos construir uma quadra de tênis em sua cidade.

Aprendizado e Inspiração: Aprendizado é algo que faz parte da vida e, para um atleta, é algo sagrado. A pior crise que podemos passar é a interna, responsável por aumentar o nível de estresse e que impede de aprendermos sobre nós mesmos.

Guga nunca esteve sozinho, contou com pessoas ao redor que o ajudaram no aprendizado e foram fonte de inspiração, como o treinador Larri Passos e o irmão Guilherme, que, segundo ele, tinham desafios mais complicados que os seus e se tornaram exemplos para seu próprio fortalecimento.

Assim como no esporte, um executivo, quanto mais no topo chega, mais sozinho se sente, pois algumas preocupações, medos, ansiedades e angústias não podem ser compartilhados com outras pessoas da organização. Ao mesmo tempo, ele também tem que performar no seu máximo potencial para gerar resultado junto com o seu time. Ter um parceiro ao seu lado para treinar novas percepções, ajudar a evoluir novos modelos mentais, estabelecer objetivos, desenvolver a autoconfiança sem ser arrogante e potencializar o time passa a ser fator crítico para o sucesso.


*Fabio Di Giacomo (fabio@umporcento.com.br) é CEO da UM%, empresa de coaching, faz parte do corpo docente da Sociedade Brasileira de Coaching e é coach do programa "Como Será?", apresentado por Sandra Annenberg, na Rede Globo.