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DINO - 13 abr, 2017) - Ficou célebre alguns anos atrás o caso do investidor norueguês que, em 2009, desembolsou cerca de 27 dólares para comprar 5.000 bitcoins ? uma moeda virtual inventada no ano anterior ? e depois esqueceu o assunto, talvez em arrependimento por ter gasto, ainda que uma pequena quantia, num ativo tão insólito. Quatro anos depois, Kristoffer Koch, como se chamava o norueguês, leu uma matéria sobre moedas digitais, lembrou do assunto e resolveu resgatar os bitcoins pensando em dar melhor destino àquele dinheiro ? algo assim como um prato de salmão defumado com batatas. Ficou pasmo ao descobrir que os seus bitcoins valiam, então, 886 mil dólares. Nada mal. O investimento tinha sofrido uma valorização de 3.281.381%.
O caso, que veio a público em 2013, entrou para a história da civilização digital. Ninguém espere repetir hoje o golpe de sorte do investidor norueguês. Passados quase 9 anos desde que foi inventada a bitcoin, esse mercado adquiriu um volume expressivo mas ainda luta para conquistar seu lugar ao sol no mercado e na vida das pessoas. "Tal como outras inovações disruptivas, a moeda digital tem de transpor algumas barreiras até poder se estabelecer: precisa conquistar a confiança dos consumidores, tem de se mostrar melhor do que os produtos ou serviços existentes e tem de pular o muro levantado pelas empresas que dominam o mercado convencional, entre outros trabalhos hercúleos", comenta Arie Halpern, economista e empreendedor com foco em tecnologias disruptivas. No caso da moeda digital, o muro é o sistema financeiro mundial, comandado pelos bancos. É um desafio considerável. A inovação tem de se haver também com as questões regulatórias do Estado, preocupado em evitar a evasão de impostos. E vive sob escrutínio das autoridades policiais em sua caçada permanente aos possíveis canais de circulação do dinheiro sujo ou de fontes de financiamento do terror.
Apesar de todas as barreiras, a ideia do dinheiro virtual tem resistido ao tempo. Em 10 de abril, havia em circulação no mercado pouco mais de 16.200.000 bitcoins e a cotação média da moeda era de 1.227 dólares. O gráfico da evolução das cotações no ano de 2017 lembra uma montanha russa, tendo variado entre 785 e 1285 dólares. Essa volatilidade que ainda predomina faz da moeda digital um mercado mais apropriado para quem gosta de emoções fortes e certamente não contribui para popularizá-la.
Seja como for, a bitcoin trouxe várias disrupturas ao mercado financeiro. A começar pelo conceito que adotou. Arie Halpern explica que as transações se baseiam em uma rede peer-to-peer (ponto-a-ponto), em que os computadores se conectam entre si sem necessidade de um servidor central. Isso permite que os pagamentos on-line sejam feitos diretamente entre as pessoas, sem passar por uma instituição centralizadora. Para garantir a confiabilidade, todas as transações confirmadas são registradas em uma contabilidade pública chamada "cadeia de blocos" (blockchain), e não podem ser apagadas. Impede-se assim que alguém venda fraudulentamente o mesmo estoque de moedas para mais de uma pessoa. O blockchain é considerado tão bom e vantajoso que está sendo adotado em Wall Street. Especialmente por que o processamento descentralizado utilizado pela bitcoin dificulta os ataques de hackers.
Para o usuário, a utilização do sistema é simples. A compra da moeda é feita através de uma instituição bancária. A partir daí os seus bitcoins ficarão em uma conta virtual criptografada e poderão ser usados como meios de pagamento ou em transações financeiras. Outras moedas digitais ? a bitcoin não é a única no mercado ? seguem mais ou menos o mesmo figurino. E existem concorrentes, como a litecoin que pretendem oferecer um rede mais rápida e eficiente que a da bitcoin.
Uma das vantagens que a moeda virtual proporciona é o anonimato em transações na rede. Ao realizar uma compra, o dinheiro virtual é debitado da sua conta, porém o site não consegue rastrear informações pessoais suas - como nome ou CPF - como acontece com o uso de cartões de crédito tradicionais. A única rastreabilidade é o número do IP do computador usado na transação. Dessa forma, o consumidor consegue se livrar de propagandas indesejadas das empresas e fica mais protegido contra fraudes.
Outra vantagem, pleiteada pelos criadores da bitcoin, é o fato de que ela elimina o custo da intermediação das transações. É aqui onde mora o temor dos bancos: o risco de que o avanço tecnológico promova a desintermediação financeira. Como são poderosos e os interesses em jogo são cifras astronômicas, estão se movendo para modernizar o sistema sem perder o controle que têm sobre o mercado. É uma das reações clássicas aos processos de disruptura.
Website:
http://www.ariehalpern.com.br