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DINO - 01 mar, 2018) - Vivemos numa sociedade onde índices de desmotivação profissional, bullying nas escolas e violência nas ruas são crescentes em alguns setores da população. Não é por simples acaso que "Sentido de Vida" tornou-se um termo popular na mídia. Uma rápida pesquisa no Google permite verificar quase 300 entradas sobre o tema. São programas de rádio religiosos, científicos, matérias jornalísticas, citações de frases e até memes sobre o assunto. Preocupadas com este tema, as instituições têm percebido que o núcleo da vida não é a profissão, a aparência ou sequer a inteligência, mas o alinhamento com as nossas potencialidades ? em todos os aspectos. Mas, na correria da vida, assumimos tantos papéis que muitas vezes esquecemos de assumir o mais importante de todos: Eu Mesmo! Somos filhos, esposas, amigos. Temos nossos sonhos e lutamos por eles. Estudamos, trabalhamos, prestamos os mais diferentes serviços. Somos colecionadores, temos coração de artista, praticamos algum esporte... Mas a pergunta "quem é você?", não conseguimos responder muito bem. Existe uma análise profunda do ser humano que diz que há dois caminhos: o caminho da diferenciação e o da integração. No primeiro tornamo-nos inteiramente originais, diferentes de todos à nossa volta. No segundo fundimo-nos com o mundo e anulamos a nossa essência ? daí muitas vezes nascem as frustrações. O profissional que se afasta dos demais e quer apenas o melhor para si, a mãe que vive em função de seus filhos? O que aconteceria se encontrássemos um terceiro caminho? Uma terceira via nos faz perceber o duplo propósito de nossas vidas: tornarmo-nos pessoas melhores, capacitadas a transformar a sociedade à nossa volta. Afinal, como diria William James, um dos pais da Psicologia Moderna: "O melhor uso da vida consiste em gastá-la por alguma coisa que dure mais que a própria vida". É compreender que podemos ser uma pequena gota de água, ao mesmo tempo que somos parte do oceano. Todas as nossas ações estão interconexas ? talvez um fio invisível que nos una, e ao cortar o fio não seremos mais capazes de levar avante uma civilização em constante progresso. Então, o nosso maior compromisso nunca pode ser com a perfeição de nosso umbigo pessoal, nem com o altruísmo exagerado, mas com a compreensão de que, ao evoluirmos, precisamos apoiar os demais em sua evolução. Em clínica psicológica é comum ter pacientes que se encontram em depressão por não saber o rumo de suas vidas. Nesse sentido, levá-los a participar de uma ação social ajuda-os a perceber que podem contribuir para a vida dos demais. Ser uma pessoa mais tolerante permite, inclusive, ajudar no desenvolvimento de seus colegas. Ser um líder firme mas também amoroso, permite que os colaboradores respeitem e façam com mais entusiasmo e qualidade o que é esperado. Cada um de nós encontra um propósito para cada situação e cada momento de nossas vidas. Podemos ver propósito no alimento quando em situação de carência, ou propósito nas bençãos de espíritos bons; assumimos que devemos agir com ímpeto, percebemos a importância das regras, focamos em obter mais recursos, aceitamos a diversidade para termos um mundo harmonioso. Podemos vivenciar vários elementos que nos deem propósito à vida. Mas, só podemos encontrar sentido se formos capazes de sacrificar qualquer uma dessas coisas e se soubermos transcender ? transcender além de nós mesmos, nossos interesses, desejos e até medos ? e, novamente, transcender ? para além de nós mesmos em direção aos demais. Quando assim fizermos, encontraremos um equilíbrio entre a vida integrada e a vida diferenciada e, aí sim, poderemos viver uma vida dotada de pleno sentido.Sam Cyrous - Psicólogo, Mestre em Psicoterapia Relacional e professor do curso de Plenitude: Desenvolvimento Integral do Potencial Humano do Instituto de Pós-Graduação e Graduação (IPOG).