Piracicaba - SP--(
DINO - 03 mar, 2017) - Alessandra Morgado
O sucesso na cafeicultura depende de uma série de fatores, sendo que alguns deles podem ser controlados com boa gestão e a racionalização de procedimentos, uso de tecnologia, insumos adequados e outras ações que são os princípios da certificação Rainforest Alliance CertifiedTM. Ter a casa arrumada pode parece complicado inicialmente e/ou gerar gastos, mas ao longo do tempo vira rotina e facilita manutenção e a visão equivocada de "gastos" passa a ser encarada como investimentos em melhorias de processos e capacitação, gerando resultados positivos para a propriedade.
Muitos produtores brasileiros desconhecem os benefícios da certificação que já existe há dez anos no país, mas o estudo Certificação Socioambiental é Vantagem Econômica dentro da Fazenda esclarece de vez esse imbróglio.
Resultado da tese de doutorado de Dienice Bini, da Esalq/USP, o trabalho comprova que as fazendas de café certificadas tiveram aumento renda bruta de R$ 2.412 por hectare, após a certificação, em relação às não certificadas. A diferença vem do aumento na produtividade das fazendas certificadas ? 9,4 sacas/ha contra 2,5 saca/ha das não certificadas?, sendo que não houve mudança no custo de produção e nem no preço do café certificado.
Tharic Galuchi, coordenador de certificação do Imaflora®, a primeira certificadora brasileira do Rainforest Alliance Certified?, destaca que a norma avalia parâmetros de gestão, sociais, ambientais e o uso de práticas agrícolas. A gestão inclui procedimentos administrativos, registros, plano de atividade, rastreabilidade, treinamentos, entre outros. "Isso é possível de ser feito por todo tipo de produtor. No mundo, aproximadamente 80% dos produtores certificados são pequenos, com mão de obra familiar", diz Galuchi.
A certificação aprimora a gestão focando legislação trabalhista, a conscientização da equipe sobre higiene, saúde e meio ambiente. Sob a orientação da norma NR-31 e a observância do uso de EPIs (Equipamentos de Proteção Individual), administradores e trabalhadores têm condições de trabalho e infraestrutura adequadas melhorando o rendimento.
"Na área de saúde e segurança são verificados os cuidados com o uso adequado de agroquímicos e a realização de exames médicos regulares, além de infraestrutura. Tudo isso ajuda a reduzir riscos e os desperdícios", afirma Galuchi.
Fazer diferença
Deixar um legado é um dos ganhos impalpáveis da certificação, que olha a propriedade como parte de um organismo. O negócio deve participar do desenvolvimento e da melhoria da vida da comunidade, promover a qualificação da mão de obra local, utilizar serviços e profissionais da vizinhança e apoiar a educação.
São vistoriados periodicamente a conservação do ecossistema, sem desmate; adequação ao Código Florestal, o uso racional e não contaminação da água, proteção e recuperação solo e o tratamento de resíduos, entre outros itens.
Potencial
Atualmente, no Sul de Minas existem 41 produtores certificados que somam (10.765ha), sendo que no país são 179.113 hectares de café certificados RAS/ Rainforest Alliance. O setor tem grande potencial de crescimento e os diferenciais podem influenciar no aumento das vendas e ajudar a conquistar nichos do mercado.
A busca por esses diferenciais atraiu os gestores da Fazenda Sete Cachoeiras Estate Coffee no Cerrado Mineiro, certificada desde 2004, que produz em 800ha em média 23 mil sacas de café. São 135 funcionários ? parte deles reside na fazenda-, entre trabalhadores rurais, tratoristas, mecânico, eletricista, soldador, almoxarife e administrador.
O proprietário Marcelo Renato Brito afirma que o grande benefício da certificação foi manter a equipe focada nos vários aspectos da gestão, o que fortaleceu procedimentos de rotina e controle em geral.
"A certificação contribuiu para uma gestão sistêmica da propriedade com padronização, treinamento e controle das atividades, além de reflexos positivos na organização, limpeza e redução de retrabalho e desperdícios", afirma ele.
Externamente, a Fazenda Sete Cachoeiras ganhou visibilidade e confiança do mercado e dos clientes. Brito afirma que a certificação diferencia o negócio para uma concorrência saudável em seu nicho de mercado, que exige cada vez mais práticas sustentáveis de produção.
Pelas mãos da diretora administrativa Carmem Lúcia Chaves de Brito as Fazendas Caxambu e Aracaçu conquistaram a certificação Rainforest Alliance Certified há um ano. A propriedade tem 42 funcionários e pertence a cinco irmãos, que são a terceira geração da família.
Para ela, a certificação é um compromisso com seus clientes e uma postura ética, social e ambientalmente correta diante do mercado. "A gente que nasceu debaixo de pé de café tem muito amor à natureza e à terra, por isso a certificação demonstra nossa filosofia de negócio: ser responsável pelo que se produz."
Num cenário em que qualidade, responsabilidade e confiança são essenciais, a certificação é caminho sem volta em que os vários participantes da cadeia contribuem com seu quinhão para que a única coisa amarga e sempre da melhor qualidade seja o café, mas que os resultados da produção, industrialização, venda e consumo do mesmo sejam sempre doces para todos.
Box
Sebrae é parceiro de quem quiser se certificar
A caminhada para a certificação na Região do Cerrado Mineiro ? região representa 12,7% da produção nacional e 25,4% da mineira- conta com instituições como o Sebrae-MG, que dá apoio financeiro e técnico para grupos de produtores interessados no selo.
Por meio da metodologia Educampo, modelo de assistência gerencial e tecnológica intensiva, os produtores trocam experiências, discutem a atividade, entendem as deficiências e potencialidades da produção de café e acesso a novas tecnologias.
A analista de negócios do Sebrae-MG, Naiara Rodrigues Marra destaca que essas ações levaram a primeira certificação agrícola dos grupos de cafeicultores da região em 2009, em parceria com a Expocaccer (Cooperativa de Cafeicultores do Cerrado).
"A certificação, apesar dos custos associados, permite que pequenos produtores participem do mercado de cafés diferenciados. O consumidor está cada vez mais exigente e quer qualidade, origem e, principalmente, saber se o cultivo respeitou as boas práticas agrícolas. Contudo, ele não consegue distinguir, mesmo após saborear a bebida, se ela possui os atributos desejados. A certificação atesta os atributos contidos no selo impresso na embalagem", destaca a técnica.
Website:
http://www.imaflora.org/