Releases 18/01/2017 - 14:27

Empresários brasileiros desconhecem a lei de Recuperação Judicial, afirma especialista


São Paulo, SP--(DINO - 18 jan, 2017) - O número atual de pedidos de recuperação judicial é o maior da década. De acordo com pesquisa da empresa de informações de crédito Serasa Experian, em 2016 foram registrados 1.863 requerimentos -- crescimento de 45%, comparado ao ano anterior. O número é o maior desde a criação da Nova Lei de Falências, em 2005. "Analisando os números gerais fica evidente que a grande maioria de empresários brasileiros desconhece a recuperação judicial", diz Douglas Duek, CEO da Quist Investimentos. Em 2015, o aumento de 125% dos pedidos de recuperação judicial em relação a 2014 já havia sido recorde, com 1287 solicitações. A recessão econômica, o aumento do desemprego e a consequente queda do consumo prejudicaram o caixa das empresas. Por outro lado, os juros mais altos ao longo dos últimos dois anos dificultaram o financiamento e a renegociação de dívidas.

Como o senhor avalia o crescimento recorde de pedidos de recuperação judicial de empresas à Justiça?

O aumento de pedidos é, obviamente, consequência de uma das mais graves recessões econômicas do Brasil. Mas analisando os números gerais, fica evidente que a grande maioria de empresários brasileiros desconhece a Lei de Falências e Recuperação de Empresas. Existem cerca de 20 milhões de empresas ativas no Brasil e menos de 2 mil processos de recuperação judicial registrados. Ou seja, menos de 0,0001% dos donos de empresas pediram ajuda para evitar a falência de suas empresas.

Por que uma empresa endividada deve procurar à Justiça?

Uma recuperação judicial bem planejada faz com que a empresa tenha suas dívidas "congeladas" por 180 dias ou mais ? e todos os juros que incidem sobre a dívida. A lei é uma ferramenta eficaz. Em muitos casos, porém, o empresário acaba recorrendo a ela somente quando já é tarde demais. Antes disso, tenta outras alternativas, como pedir novos empréstimos para pagar financiamentos em atraso, juros sobre juros, e deixa a empresa em situação ainda pior. Por isso, muitas empresas também tiveram execuções e pedidos de falência, por não buscar uma alternativa no momento certo.

O que fazer nesse período de 180 dias de congelamento da dívida?

Com ajuda de um bom aconselhamento especializado, a empresa pode fazer novas propostas de pagamentos aos credores, bancos, fornecedores e funcionários, adaptando o tamanho do negócio e das dívidas à sua nova realidade. Entre 2014 e 2016, muitos empresários viram o faturamento de suas empresas cair pela metade. Se as vendas encolheram, não é saudável continuar com as mesmas despesas do passado. A empresa precisa vender ativos e estudar alternativas para conseguir pagar as contas. A recuperação judicial permite que o pagamento seja feito de forma justa e organizada para todos os credores ao mesmo tempo.

Por que a demora em recorrer à recuperação judicial?

Acredito que possa existir uma confusão com a antiga Lei da Concordata, que não existe mais, pois não era eficaz. Na concordata, as empresas tinham dois anos para pagar suas dívidas atrasadas e a maioria quebrava, porque esse tempo não era suficiente. A Lei de Falências e Recuperação de Empresas é bem diferente: a companhia deve apresentar à Justiça um plano que se adapte às suas reais capacidades. Na Quist Investimentos conseguimos aprovar para alguns de nossos clientes, planos de recuperação com prazos de até 25 anos para pagar as dívidas. Essa renegociação permite que a empresa tenha uma chance real de continuar existindo. Nos Estados Unidos, as companhias aéreas American Airlines e Delta Airlines, a petroquímica Texaco, a montadora Chrysler e a fabricante de bolsas Samsonite já utilizaram uma lei semelhante a brasileira para sobreviver em momentos de dificuldades.

Para quais tipos de empresa o senhor indica a recuperação judicial?

Essa pergunta é muito importante. Imagine uma escola. Quais alunos ficam em recuperação? Aqueles com notas abaixo da média. Estudam, fazem as provas, se recuperam e passam de ano. Agora, aluno que só tira nota zero vai repetir de ano, a recuperação não adianta mais. O melhor que um empresário ou presidente de uma companha que está endividada pode fazer procurar por um diagnóstico de um especialista. Na Quist Investimentos, coordenamos 40 processos de recuperação judicial nos últimos oito anos, com sucesso em 95% dos casos. Nós selecionamos as empresas que estão em um ponto possível de ser reestruturada, montamos um diagnóstico e, com uma equipe multidisciplinar de advogados e gestores financeiros, reinventamos a empresa para seu novo ciclo de crescimento.

Qual conselho o senhor dá para o empresário que está com uma empresa endividada nesse momento?

Estude, pesquise, se informe e busque ajuda especializada. Um diagnóstico prévio pode resultar numa recuperação judicial de sucesso, ou até evitá-la com renegociações sem necessidade de recorrer ao judiciário. Busque mudanças. A pior decisão é esperar, em vez de agir.

Douglas Duek é mestre em finanças com formação pela Universidade de Harvard, com especializações na New York University e Insper, e é CEO e Fundador da Quist Investimentos, fundo de investimentos e consultoria especializados reestruturação de empresas.

Website: http://quist.com.br