Rio de Janeiro - RJ--(
DINO - 05 abr, 2017) - Você já ouviu falar em gamification ou "gamificação"? Esse é um assunto novo que cresce no mundo corporativo e acadêmico, e diz respeito ao uso de técnicas aplicadas aos jogos (games), mas não necessariamente videogames em questões corporativas e educacionais. Vão desde raciocínios orientados até designs e mecânicas específicas para enriquecer conteúdos dos games para aplicação em processos produtivos nas corporações ou em processos de aprendizado.
A gamificação busca sobretudo o engajamento. O que leva uma criança a passar horas na frente de um vídeo game, mantendo-se estimulada, e ao mesmo tempo essa mesma criança não consegue se concentrar em uma aula de uma ou duas horas? Interesse. E por quê? Por que um vídeo game é mais atraente e mantém o usuário estimulado durante todo o processo, o que se traduz em um engajamento natural.
Veja, em sala de aula, o aluno não se sente estimulado. Primeiro, porque quase sempre não compreende todo o desdobramento prático da teoria e a aplicabilidade se limita naquele momento em "passar na disciplina". Depois, porque seu objetivo a ser alcançado está distante: final do ano letivo, do período. Ele se sente empolgado e engaja-se no processo de aprendizado na primeira semana de aula, e depois, no final, quando se sente pressionado pela aprovação. Em uma empresa ou escritório de advocacia acontece o mesmo: o processo de engajamento do início da contratação só se reproduz próximo das perspectivas de promoção e aumento salarial.
Ou seja, para nos engajarmos de forma constante, precisamos ser constantemente estimulados, e isso passa por nos sentirmos recompensados durante todo o processo. É isso que acontece em um videogame? Todo o tempo. Os jogos não têm apenas um início e um fim. São divididos em fases para que você cresça junto o jogo e ele não te mantém distante do objetivo final, mas próximo o tempo lhe oferecendo estímulos por desempenho. Primeiro você quer mudar de fase e acha importante ter uma barra de progresso para acompanhar o quão mais próximo do fim você está. Depois, durante as fases, você quer colecionar medalhas, prêmios, alcançar pequenos objetivos ao longo da sua jornada, o que lhe traz um engajamento voluntário.
Outro ponto é que um jogo oferece ainda uma perspectiva de competitividade, onde você espera se tornar melhor e, sobretudo, perceber constantemente essa melhora, seja ganhando da máquina, seja ganhando de um adversário físico. Esse elemento de competitividade cria também esse estímulo de engajamento, e por vezes, o próprio sentimento de vaidade humana, alavanca ainda mais esse mecanismo voluntário de participação. Vejamos o sucesso dos jogos on line, onde você quer, ao mesmo tempo, ser capaz de vencer adversários reais, e perceber isso através de quadros de ranking.
Veja um exemplo de como a gamificação faz diferença nas redes sociais: o engajamento para obter mais seguidores e mais curtidas. Em sites como o trip advisor, você pode deixar de ser um "simples viajante" e ser um "viajante experiente". No aplicativo Waze, você deixa de aparecer na tela como um bebê e passar a ter espada e escudo. Vale dizer que programas de fidelidade podem criar um ambiente de engajamento voluntário, pois você quer atingir metas de pontuação. Isso acontece com programas corporativos de promoção por desempenho, por exemplo.
No Direito, podemos aplicar técnicas de gamification? Ora, a competitividade é inerente ao advogado. Somos moldados para querer "ganhar a causa". Somos estimulados ao embate. E por que isso não pode ser usado positivamente, e de forma mais otimizada, desde a formação do profissional?
Temos desenvolvido algumas práticas que vêm despertando efeitos bastante positivos através do uso de uma plataforma digital que simula o processo judicial eletrônico , em que o aluno é estimulado a "jogar uma causa" com seus colegas adversários. A prática tem nos mostrado que a ferramenta possibilita elevarmos o simples ensino técnico e formal de peticionamento a um exercício prático de argumentação jurídica. Isto é possível porque o nível de engajamento é elevado para produzir argumentos que sejam melhores dos que de seus pares. Um modelo de petição pode substituir, muitas vezes, uma aula, mas os argumentos que serão inseridos nesse modelo é que serão determinantes.
Técnicas de gamificação também podem ser usadas no ensino formal, sem o uso de plataformas digitais, através da gamificação de estudos de casos jurídicos. Dessa forma, ao invés de se ter o conteúdo formal, os alunos podem ser divididos em grupos, que devem disputar entre si para alcançar a melhor solução do caso proposto. Isso faz com que o engajamento nas aulas seja maior, pois a perspectiva de participação do aluno muda. O grupo não quer mais aprender por aprender, pois ele precisa daquele conhecimento para vencer a disputa.
A gamificação pode ser utilizada também no processo de desenvolvimento de equipes de advogados já formados, estimulando a competição in company, por exemplo.
A aplicação é vasta e as possibilidades são imensas. O Direito, na era da tecnologia, em que o conhecimento está disponível na internet, precisa se modernizar. O melhor profissional não é o detentor do conhecimento, cuja fonte era de difícil acesso, mas o profissional que melhor usa esse conhecimento disponível.
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