Releases 01/02/2019 - 08:54

Homeschooling: o polêmico ensino domiciliar na prática


Campinas, SP--(DINO - 01 fev, 2019) -
Depois de muitos anos sonhando com a liberdade de morar no mar, o empresário Luciano Grilo, 44 anos, e a argentina Fernanda Grilo, 42 anos, decidiram deixar tudo para trás e viver em um veleiro dando a volta ao mundo. O Bora, um catamarã de 48 pés, também é a casa das três filhas do casal: Lara, de 14 anos, Lisa, de 11 anos e Luzia, a Lulu, de 7 anos. A preocupação maior ficou por conta da educação das meninas. E como abandonar a escola nunca foi uma opção, o método de ensino escolhido pela família foi o homeschooling – ou educação domiciliar. A modalidade consiste em oferecer à criança, com metodologias específicas e rotinas pré-estabelecidas, a educação que seria oferecida em uma escola.

O homeschooling vem sendo muito discutido no Brasil como pauta de um ensino abrangente. Algumas pessoas acham que essa é a solução do problema da falta de escolas em lugares distantes e esquecidos, uma das causas da grande evasão escolar do Brasil, que já é de 2,8 milhões; já outras acham que a falta do ambiente escolar e de um professor presente diariamente causam grandes danos à formação do indivíduo. No meio dessa discussão, também aparece a terceirização da educação dos filhos e exclusão social da criança.

A opinião das escolas também é válida, já que o ensino é compreendido com um universo modificável. “Normalmente as pessoas se assustam com a ideia de homeschooling, porque se acostumaram a pensar que a escola é o único e ideal espaço para a criança desenvolver competências e habilidades cognitivas e emocionais. Acredito que isso seja resultado de um comportamento que, em virtude de uma grande carga horária de trabalho dos pais, faz acreditar que em casa a criança não tenha estímulo cognitivo e desenvolvimento social. Ela tem, sim! A convivência familiar, a rotina da criança desde o acordar até se deitar é cheia de acontecimentos e vivências ricas que podem ser utilizadas para aprender”, explica Sandra Coelho, coordenadora pedagógica de uma escola de Campinas, São Paulo.

A prática, que já é adotada por 63 países em todo o mundo e consolidada em lugares como Estados Unidos, Canadá e Austrália, cresce de forma silenciosa no Brasil, lugar onde o homeschooling ainda não foi regulamentado. Em setembro, o STF votou admissão do ensino escolar a distância, mas acabou parcialmente derrotado. No entanto, nem a constitucionalidade e nem a inconstitucionalidade da prática foram declaradas e a discussão ainda continua. Caso fosse afirmada inconstitucional, isso dificultaria a possibilidade de novas votações.

Homeschooling na prática

Para a família Grilo, que está em viagem há 6 meses pelo mar do Caribe, o homeschooling foi a solução mais acertada para educar as três filhas. Os pais são ativos nos estudos, mas o professor também faz parte do processo. “Nós temos três meninas, a Lulu no 2° ano, a Lisa no 7° ano e a Lara no 9° ano. A Lisa e a Lara andam sozinhas, o meu papel e o papel da Fernanda como pais é, basicamente, cobrar que as atividades sejam feitas. E no final de cada lição – é uma lição por semana – o professor da escola online faz a checagem de aprendizagem”, explica Luciano, o pai e capitão do veleiro Bora. “A Luzia já demanda um pouco mais de trabalho. Tudo precisa ser lúdico. Ensinamos matemática na cozinha, ciências na praia e tem muita coisa em artes.”

A rotina de estudos consiste em marcar aulas com os professores via internet e realizar as atividades programadas para o dia. Pesquisas online e em livros e conversa com pais e tutores é parte principal dessa forma de estudo.

Quem vivencia o homeschooling, como é o caso da família Grilo, afirma que existem contras, como a falta dos amigos e professores do colégio, mas os prós se sobressaem. “Uma coisa que eu gosto do homeschooling é poder controlar o que e o quanto posso fazer por dia, além de poder tirar dúvidas com meus pais”, conta Lisa Grilo, a filha do meio. "No nosso caso, os valores que nossas filhas irão aprender não têm preço. Não há escola que pode ensiná-las o que elas irão viver no barco, conhecendo novos lugares, buscando a própria água, gerando a própria energia”. A família documenta seu dia a dia, incluindo o homeschooling, e a rotina do barco no canal SV Bora, no YouTube.



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