Porto Alegre, RS.--(
DINO - 26 ago, 2016) - Filhos de Pais Idosos
De uma maneira geral, somos treinados para a juventude. Brincar, crescer, estudar, trabalhar, casar, ter filhos. Não necessariamente nesta ordem, atualmente.
E depois? Seguimos no piloto automático, trabalhando, trabalhando, trabalhando para criar e encaminhar nossos filhos. E quando eles estão prontos, a ponto de escolher como voar e para onde ir, nos deparamos com as incógnitas da segunda parte da jornada.
A partir da meia-idade, começamos a viver o ninho vazio e o tempo mais livre que vem de carona, sentindo as mudanças de corpo e mente, preparando a aposentadoria, construindo projetos alternativos.
Junto com as descobertas desta etapa, acompanhamos a velocidade exponencial do envelhecimento da população brasileira e somos confrontados com a velhice instalada no andar de baixo da nossa árvore genealógica.
Porém, acredito que não devemos nos guiar pela forte tendência, como faz a mídia, de dirigir holofotes para o envelhecer saudável e deixar nas sombras os possíveis problemas decorrentes da idade avançada e os cuidados necessários. É importante abrir espaço nas famílias para conversar sobre este assunto com um olhar compartilhado, mais amplo. E de preferência, antes que o lado menos colorido da longevidade paterna e materna assuma o papel principal.
As necessidades e solicitações dos pais idosos podem nos chegar de repente, por conta de uma crise como ataque cardíaco, acidente grave, viuvez. Ou através de pequenos sinais, devagar como água esquentando numa panela.
A partir daí, no meio da turbulência, parece que a roda da vida está em marcha a ré. Ao encarar o espelho retrovisor, num misto de estranhamento e medo, constatamos que os pais precisam de nós. Nos sentimos convocados a assumir uma tarefa para a qual não fomos preparados e justamente na época em que pensamos usufruir as liberdades e conquistas da nossa maturidade.
Apesar da obrigação imposta pela lei e pela tradição da cultura latina, nem todos os filhos têm o perfil de cuidador. Assim como nem todas as mães foram feitas para a maternidade. Muitos que se mostram fora do padrão acabam se sentindo culpados por serem diferentes.
Grande é a pressão sobre os filhos que deixam de atender as expectativas, gerando um desconforto dentro das famílias. Brigas, ressentimentos, queixas tendem a ocupar tempo e diminuir o convívio. Consequentemente, os pais acabam se sentindo um estorvo, pesada herança para aquele filho que permanece presente, e cuida, como se fosse único. Isto acontece, inúmeras vezes, mesmo havendo vários irmãos e irmãs.
Mas, antes de crucificar os ausentes, devemos compreender que é extensa a lista dos motivos e razões que influenciam este comportamento.
Novas tecnologias podem ajudar os filhos que estão distantes, a cuidar dos pais idosos. Novas formas de comunicação e monitoramento de emergências podem trazer tranquilidade aos filhos e segurança aos idosos.
Esmeralda Kiefer
Gerontóloga
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http://tecnosenior.com