São Paulo - SP--(
DINO - 20 dez, 2016) - No meu trabalho de gestão de carreira tenho convivido com uma situação especialmente constrangedora. O profissional encontra um novo emprego, novos amigos, novos desafios, cargo pomposo e salário almejado, mas quer sair correndo de lá. A empresa em que trabalha
é de projeção global, tem escritórios no mundo todo, oferece chance de carreira internacional e, mesmo assim, ele só pensa em fugir! Passados três meses o sonho do novo emprego virou pesadelo? Sim, e para entender o que anda ocorrendo, é preciso conhecer os conceitos de sucesso objetivo versus o sucesso subjetivo.
Boa parte das empresas ainda escolhem seus profissionais priorizando as competências técnicas e demitem pela ausência dos comportamentos alinhados à sua cultura, ao seu jeito de ser. Mudar um comportamento é mais difícil do que aprender um novo software, metodologia de gestão de projeto ou lógica de orçamento base zero. Com base nisso já se pode sugerir, como garantia de eficiência na escolha de pessoas, que a contratação priorize candidatos com comportamentos aderentes ao jeito da empresa ser. O inverso, além de nocivo internamente, é bem mais caro e moroso.
Ao aceitar uma vaga, as pessoas valorizam se o cargo demonstra mais poder que o atual, se o pacote de remuneração é maior, e se o nome da empresa é mais reconhecido no seu hall de amigos e nas redes sociais. Esses são os símbolos do chamado sucesso objetivo. Se isso bastasse, profissionais recém-contratados estariam sempre felizes e casos de pedidos de demissão em poucos meses, para aceitar propostas com remuneração ou status menores, não aconteceriam no ritmo visto atualmente.
Quando surge, a insatisfação é fruto da falta do que é considerado sucesso subjetivo. Ele pode estar no ambiente de trabalho, na relação com o gestor, pares, clientes ou fornecedores, na forma de interagir com a comunidade do entorno, nas ações sustentáveis ou pela falta delas. A lista é interminável. O que temos aqui são as características importantes para cada um, aquilo que faz com que eu ame uma empresa e outro deteste. O que difere o que é sucesso subjetivo pra mim e do que é para você são os nossos valores. É aquilo do qual não se abre mão.
É fundamental descobrir quais são os valores da empresa em questão. Você vai escolher ou ser escolhido por ela? Em qualquer situação é preciso avaliar se a empresa respeita e vivencia seus valores. E se você se identifica com estes. Desde que sejam reais, claro. Pode ser, apesar de raro, que o que a empresa declara no seu site e nos quadros de aviso, não seja praticado no dia a dia. Para ter certeza disso é preciso conversar com quem trabalha lá, trabalhou, é cliente, fornecedor ou parceiro. A conversa precisa ser pelas bordas. Nada de ir direto perguntando "o que tá na parede é verdade?". Poucas são as pessoas que entendem o que são valores vivenciados e já refletiram se o que está na parede é a realidade do cotidiano. Perguntas do tipo "o que faz alguém ser promovido aqui? E mandado embora?" podem trazer valores relativos à honestidade, ética, politicagem, meritocracia. Perguntas como "qual sua relação com seu gestor direto? E com seus pares?" podem falar sobre trabalho em equipe, cooperação. E ainda "como você fica sabendo do que acontece na empresa? falam de comunicação, acesso à informação, tomada de decisão.
Entendido que ter valores alinhados com os da empresa é vital para a felicidade no trabalho, há algumas dicas para conduzir esse processo, com sucesso, na prática. Primeiro, é preciso reconhecer quais são os seus valores. Pergunte-se, o que me faz - ou fez - feliz nessa ou naquela empresa? Por quê? Posso viver sem isso, ou trata-se de um elemento tão vital para mim quanto o ar que respiro? E o que me frustra? Por quê? Posso conviver e tolerar essas práticas ou isso é inadmissível para mim? Toda vez que se trata de algo sem o qual ou com o qual você não pode continuar trabalhando em determinado lugar, isso é valor para você.
Pense nos seus valores, pense nas perguntas necessárias para saber se a empresa comunga deles ou diverge. Então você terá a resposta se aquela é uma empresa da qual você quer fazer parte ou não. Escolha, não seja apenas escolhido. O sucesso objetivo trará felicidade amanhã, o subjetivo pelos próximos anos.
Maria Candida B. de Azevedo - Diretora da People & Results, consultoria especializada em Carreira e Cultura Organizacional. Doutoranda pela School of Management of The Netherlands, no tema Carreiras Paralelas, é também docente no Instituto COPPEAD de Administração e na Fundação Dom Cabral. É mestre em cultura organizacional pelo COPPEAD-UFRJ, com extensão na RSM Erasmus University/Holanda.
Website:
http://www.peopleandresults.com.br