Releases 16/03/2017 - 20:43

Cooperativa habitacional, solução para reduzir o déficit de moradias


São Paulo - SP--(DINO - 16 mar, 2017) - O Brasil é mundialmente tratado como um emergente, mas alguns indicadores essenciais para o desenvolvimento mostram que o país ainda está submerso e longe de emergir. Um deles é a água tratada. Um em cada cinco brasileiros ? ou seja, quase 40 milhões de pessoas ? não sabe o que é água potável. Quase metade não tem acesso a esgoto, despejando seus dejetos na natureza. E, ainda assim, quase 40% da água tratada do país é desperdiçada, pelos mais diversos motivos, como vazamentos e fraudes. Outro indicador que coloca o Brasil submerso no desenvolvimento é o déficit habitacional. Segundo os dados mais recentes, de 2014, mais de 6 milhões de famílias não têm onde morar dignamente ? o que, na prática, significa viver na residência de outras pessoas, em habitações precárias, como barracos, ou dividir quartos com um número excessivo de pessoas. Um levantamento inédito divulgado no segundo semestre do ano passado pela Fiesp, com base na metodologia da Fundação João Pinheiro ? a mesma que abastece o Ministério das Cidades ? revela que 89% do déficit habitacional está em áreas urbanas, atinge predominantemente as classes mais pobres e afeta as regiões do país menos desenvolvidas economicamente. O estado do Maranhão é o caso mais grave, com 18,9% da população vivendo em condições precárias por falta de moradia. A região Norte, no entanto, é a que apresenta o maior déficit relativo, 11,9% da população, sendo que o estado do Amazonas bate em 14,9%. O Nordeste vem em segundo, 10% das famílias sem um lugar decente para viver. Não é preciso fazer nenhuma conta elaborada para perceber a multidão de pessoas ?donas de casa, crianças, idosos e pais de família, ? que trabalham, mas não têm a dignidade mínima de um teto. O Brasil precisaria construir nada menos que 6 milhões de casas acessíveis a essas famílias, que foram sendo empurradas para a humilhação por causa de aluguéis altos demais, salários baixos demais e desemprego. Mas como resolver um problema dessas proporções?O cooperativismo pode ser a melhor solução. Essa é, pelo menos, a opinião de Robinson Souza, diretor-presidente da Baalbek, cooperativa habitacional com forte atuação nos municípios de Mongaguá e Itanhaém, na Baixada Santista. Os argumentos dele são lógicos. "Enquanto as construtoras objetivam o lucro, as cooperativas objetivam a realização", disse em entrevista à EasyCoop. "O custo de um imóvel em uma cooperativa chega a ser 30% menor do que no mercado tradicional, e com maior qualidade", acrescenta ele. Só a diferença de custo e a qualidade já são capazes de tornar algo impossível em viável. Afinal, se 30% já fazem uma enorme diferença no caixa do supermercado, que dirá na compra de uma casa. "Desde que administrada de forma séria, a cooperativa pode ser a solução para o déficit habitacional", afirma Souza. O diretor-presidente da Baalbek, porém, queixa-se do que ele considera o maior obstáculo ao crescimento das cooperativas habitacionais: a credibilidade. "A má administração de uns prejudica outros", diz Souza. Apesar disso, no entanto, ele acha que o lugar que o poder público deveria ocupar para o desenvolvimento do cooperativismo é o de fora. "Não precisa de ajuda, porque quem sabe a necessidade do cooperado é ele mesmo", afirma. "Muitas vezes em que um órgão público interfere, em vez de ajudar ele distorce." FederaçãoEm vez disso, a Baalbek conta que está fazendo um estudo para viabilizar a criação de uma federação de cooperativas habitacionais, com o objetivo de dar mais credibilidade ao sistema, unificar o modelo operacional e conferindo um selo de qualidade e de normatização aos membros. "É melhor a autorregulamentação do que uma lei que faça imposições", defende Souza, como caminho para o desenvolvimento do cooperativismo habitacional, para, enfim, a casa própria deixar de ser um sonho ? algo para poucos, quase inatingível ? para se tornar um direito ? algo líquido e certo."É o caminho mais barato para a conquista da casa própria"A Cooperativa Habitacional Central do Brasil é uma das principais cooperativas habitacionais autogestionárias do país. Atualmente está presente no Distrito Federal e em seis estados - São Paulo, Bahia, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Mato Grosso do Sul, como nos conta José Luiz Araújo, vice-presidente da Coohabras. O movimento pela criação desse modelo de cooperativa habitacional ? baseado nos princípios de participação, autogestão, contribuição e educação popular ? teve início na Serra Gaúcha, em 1990, com base em experiência bem-sucedida iniciada no Uruguai em 1968. A criação da Coohabras nasceu a partir de debates realizados no Fórum Social Mundial de 2010, em Porto Alegre. Na metodologia idealizada pela Coohabras, tudo começa com a identificação de um terreno adequado a um projeto habitacional. A partir daí, chamam-se as pessoas interessadas para encontros pedagógicos e dispostas a contribuir para a formação da poupança para a compra do terreno, com valor estabelecido em conjunto, conscientes de que as casas sairão por preço de custo. Dado este passo e desenvolvido o projeto de engenharia, a cooperativa se encarrega de buscar crédito e de contratar uma empresa construtora para executar as obras. Confira a entrevista de José Luiz Araújo à EasyCoop.EasyCoop ? Qual a diferença básica entre as cooperativas habitacionais e as construtoras? José Luiz Araújo - As cooperativas habitacionais são projetos de auto-organização que visam produzir imóveis a preço de custo, onde as famílias participam de todo o processo, desde a definição e compra do terreno, desenvolvimento do projeto de engenharia e busca de financiamento coletivo. Pela cooperativa, o cooperado segue três passos: 1 - Contribui para a compra do terreno (poupança coletiva); 2 - Encontra terreno compatível; 3 - Desenvolve o projeto de engenharia e busca financiamento para construir. Já as construtoras produzem e vendem a preço de mercado, sem participação e com altos juros embutidos no valor do imóvel.EC ? As cooperativas habitacionais podem ser o caminho para a diminuição do déficit habitacional? Araújo - Sim, as cooperativas habitacionais são o caminho mais barato para a conquista da casa própria e se demonstram como alternativa e solução para milhares de pessoas. No Rio Grande do Sul, onde nasceu.