Releases 13/12/2016 - 14:28

Polos tecnológicos em reinvenção criativa


(DINO - 13 dez, 2016) - O Vale da Eletrônica, em Santa Rita do Sapucaí, no sul de Minas Gerais, foi o primeiro ecossistema tecnológico do país voltado ao empreendedorismo. O polo foi inspirado pelo encontro, na década de 1950, entre Albert Einstein e a santa-ritense Luzia Rennó Moreira, que levou a sério a sugestão do físico de que o futuro da humanidade seria guiado pela Eletrônica, retornou à sua terra natal e criou a primeira Escola Técnica de Eletrônica da América Latina. Com seu ato heroico, ela catalisou uma transformação sem precedentes. Hoje, Santa Rita coleciona casos de sucesso, como o desenvolvimento e fabricação do chip do passaporte eletrônico e das urnas eletrônicas, além de empresas inovadoras como a JFL, em segurança patrimonial, a Leucotron, em comunicação e produtividade, e a DL, principal marca de tablets e celulares do Brasil, superando gigantes como Apple e Samsung. Liderado por uma das instituições de ensino superior de maior reconhecimento mundial na área de tecnologia, o Inatel (Instituto Nacional de Telecomunicações), o Vale da Eletrônica tem a maior densidade de empresas de tecnologia na América Latina. Com apenas 40 mil habitantes, totaliza mais de 200 empreendimentos, cerca de 50 para cada 10 mil pessoas, com receita de 3 bilhões de reais em 2015 e cerca de 15 mil empregos gerados.

Outro ecossistema de referência é o Porto Digital, instalado no Recife, desde o ano 2000. O polo começou a desenhar sua trajetória ainda nos anos 1970, quando a IBM instalou uma unidade na capital e ganhou força, posteriormente, na década de 1980, quando o Banorte fornecia sistemas para os maiores bancos do País. Assim como o polo mineiro, o ecossistema pernambucano foi se desenvolvendo ao redor da academia, no Centro de Informática da Universidade Federal de Pernambuco e mais recentemente no C.E.S.A.R. (Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife), fundado há 20 anos. O investimento inicial para a formalização do Porto Digital, de 33 milhões de reais, veio da privatização da Companhia Energética de Pernambuco (Celpe). Com foco inicial em Tecnologia da Informação, o Porto Digital engloba uma área de 80 mil m², em vários endereços, e não apenas na ilha. São 260 empresas em que trabalham cerca de 9 mil pessoas, gerando um faturamento anual de 1,4 bilhão de reais.

Tanto no caso de Santa Rita do Sapucaí quanto no exemplo de Recife, os polos atendem à busca por pessoal qualificado, espaços empresariais apropriados, interação com governo, com outras empresas, acesso à inovação e, o que os torna diferentes de um centro metropolitano tradicional: o fluxo de interação e o processo cooperativo proporcionado por um ecossistema diversificado, descentralizado, com peças devidamente complementares. Nos últimos 10 anos, entretanto, ambos os polos viviam certo desconforto por justamente não conseguir mais inovar. Foi a partir dessas constatações que tanto o Vale da Eletrônica quanto o Porto Digital passaram a fomentar soluções baseadas no conceito de economia criativa como forma de se reinventar. O ponto de partida foi estabelecer uma conexão entre aqueles que desenvolvem soluções técnicas e científicas, capazes de responder questões profundas, com profissionais de perfil artístico, como designers, publicitários e artistas, que conseguem um entendimento mais amplo das necessidades humanas, possuem pensamento lateral mais desenvolvido e gostam de encarar o desconhecido. Com a conexão dos dois mundos frente a grandes desafios globais, os projetos em questão vêm gerando enorme transformação - cada um à sua maneira.

O Cidade Criativa, Cidade Feliz é um movimento colaborativo que integra academia, empresas, coletivos voluntários, instituições de classe e poder público. Seu foco está nas conexões entre as diversas culturas existentes para gerar uma nova cultura para o polo. Na prática, funciona como plataforma de experimentação para projetos que unem áreas que vão do teatro à indústria de hardware, da cena de startups ao universo da gastronomia. Com a troca de conhecimento e de recursos não-financeiros entre os eixos participantes, resulta em um grande festival com duração de um mês. Um exemplo emblemático gerado no processo é o HackTown, evento de formato inovador que reúne em bares, restaurantes e locais inusitados espalhados por todo o centro da cidade, algumas das mais criativas mentes do mundo em áreas como tecnologia, publicidade, música, artes, design e startups. Nas empresas consolidadas, a maior transformação foi na incorporação do Design Thinking como disciplina. Já nas startups, as temáticas se ampliaram, com abordagens que unem tecnologia a áreas como a agricultura, esportes, educação, publicidade, games, entre diversas outras. O Cidade Criativa também inspirou novos movimentos, como a consultoria em rede Avoa, que além de realizar eventos em inovação social, conseguiu viabilizar a utilização dos Global Goals da ONU como ponto de partida para os projetos das feiras estudantis de tecnologia do Inatel, exatamente de onde surgem as startups e novas empresas que vão compor o polo. O sucesso é inegável, e só está começando.

Em Recife, a busca é por uma transformação semelhante. A economia criativa surgiu como uma alternativa de geração de riqueza e de emprego, além de ter sido detectada como o elemento necessário para a geração de mais inovação no contexto da tecnologia. Desta forma, o Porto Digital deixou de ser um parque tecnológico exclusivamente voltado para tecnologia da informação e passou a trabalhar a economia criativa em frentes distintas: games, cinema, vídeo, animação, design, fotografia e música. Em seguida, abriu-se um leque de possibilidades no desenvolvimento de soluções criativas e inovadoras para as cidades, com potencial de geração de negócios voltados para a melhoria da qualidade de vida nos municípios. Foi neste contexto que surgiu o Laboratório de Objetos Urbanos Conectados (L.O.U.Co), espaço de múltiplas interações de trabalho colaborativo e criativo para a aceleração de inovações e negócios que resolvam os problemas das cidades. Seu escopo é ser um laboratório de experimentação urbana em escala real, endereçando temas como bem-estar, saúde, esportes, preservação do meio-ambiente, transporte, mobilidade, cultura, entretenimento e urbanismo. O objetivo é construir um novo diferencial competitivo para que o Porto Digital continue a ser relevante pelos próximos 10 anos.