Curitiba, PR--(
DINO - 21 nov, 2017) - Método diminui os limites entre o online e off-line, o presencial e o virtual, provocando nos alunos a curiosidade e os colocando em posição de decisão
No ensino percebe-se claramente que é cada vez menor o limite que separa aquilo que se aprende em sala de aula e o que se aprende fora, ou ainda aquilo que se aprende presencialmente e o que se aprende online. Trata-se de um processo natural, em que estamos conectados de diversas maneiras estabelecendo relações e promovendo novas formas de se comunicar, de ensinar e de aprender. A isso damos o nome, na educação, de ensino híbrido, um modelo que favorece fortemente o desenvolvimento de metodologias ativas, visto como tendência hoje, na verdade já fazia parte do trabalho dos filósofos antigos, como Sócrates - um dos maiores expoentes da Filosofia grega. O modelo agora vem mexendo até mesmo com o modelo mental de professores e alunos.
As reflexões são do coordenador geral de Educação a Distância da Universidade Positivo (UP), Everton Renaud, que também é professor e já utilizava metodologias ativas com seus alunos do Ensino Fundamental e Médio, sem saber, na época, as proporções que este método tomaria nos dias de hoje. Para Renaud, que também é Diretor Educacional da ERA Consultoria, é preciso levar essa realidade para dentro da sala de aula desde a Educação Básica até o Ensino Superior, provocando nos alunos a curiosidade e os colocando em posição de decisão.
A experiência híbrida, explica o professor, está voltada para a aprendizagem que integra o que pode ser feito pela mediação das tecnologias digitais e aquilo que é feito presencialmente, ao mesmo tempo e no mesmo local. Entre as características do ensino híbrido, que segue uma cultura atual, está um professor que é construtor de experiências significativas de aprendizagem; a personalização da aprendizagem, no seu planejamento; a oferta de experiências de aprendizagem ligadas às diferentes formas de aprender dos alunos e a preparação para um futuro desconhecido no qual cada cidadão será chamado a participar resolvendo situações nunca vistas antes.
Para Renaud, o ensino híbrido rompe com visões tradicionais e aí é que se encontra o desafio. São ações que precisam levar alunos e professores para uma dimensão totalmente de acordo com a realidade da nossa vida, mas que se encontram, em grande parte, desconectadas. Essa desconexão no ensino, acredita Renaud, mostra o quanto é preciso quebrar paradigmas, uma vez que a educação é uma das partes mais sensíveis ao processo de mudança, mas que está engessada e passível de resistências.
"Faz sentido pensar na cultura. Vivem-se mudanças culturais e sociais, uma cultura diferente, que deve ser compreendida por todos os atores do processo de ensino e aprendizagem", destaca. Por isso, cabe a reflexão levantada por Renaud: "Seria possível viver uma era de disrupção e com uma mudança cultural gigante como a nossa e não sofrer estes efeitos na educação?"
Para Renaud, algumas reflexões já nos servem de resposta. "Se o mundo muda e se a sociedade muda, o jeito de aprender deve mudar também. No entanto, encontramos o processo de ensinar engessado e sustentado pela resistência. Romper com o modelo vigente construindo um novo paradigma pode não ser o jeito mais confiável, mas certamente é um dos únicos cabíveis para a construção de algo novo que supere nossas capacidades de julgamento e nossos preconceitos", analisa o professor. A dificuldade, explica ele, é muito mais cultural do que técnica.
Um novo modelo mental
Para Renaud precisamos aprender a sermos diferentes, radicalmente diferentes, e desapegar das âncoras de pensamento e de vivências que construímos ao longo de muitos séculos. Tudo isso porque o nosso modelo mental está mudando não sendo mais possível persistir na resistência. "O modelo mental dos jovens e das crianças está transformado em relação a sua forma de viver o mundo. Mas os seus modelos mentais, enquanto alunos, nem sempre acompanham esta tendência, principalmente aqueles que hoje cursam o ensino superior".
O professor lembra de uma situação vivenciada em sala de aula: "Aplicando o ensino híbrido com meus alunos e fazendo metodologias ativas um dos alunos me disse certa vez 'professor, está tudo muito legal, sua matéria está boa, mas quando você vai dar aula mesmo?'". Exemplos como esse, mostram que o aluno do Ensino Superior de hoje também é resistente, pois esperam uma continuidade do aluno que foi na Educação Básica e até mesmo no Ensino Médio. Eles levam um susto quando encontram na universidade um professor que ensina diferente de como ele próprio aprendeu e diferente do que o próprio aluno foi ensinado ao longo da sua vida.
Em paralelo, temos um grande grupo de professores que já percebeu a mudança e trabalha arduamente em sua própria formação para mudar seu modelo mental sobre o que é dar aula. Este processo, segundo Renaud, não é automático e nem fácil de atingir. Isto porque o professor que leciona, hoje, tem arraigado em seu passado, um aluno que foi ensinado durante toda a sua história escolar o que deve pensar, como deve fazer, onde deve sentar, para onde deve ir. O resultado disso, em sala de aula, é uma ação que vai contra ao ensino híbrido, uma ação educacional pouco preparada para trabalhar com a autonomia dos alunos.
As experiências de Renaud em sala de aula, como gestor e agora como coordenador de Educação a Distância têm mostrado que, depois do susto superado, quando os alunos se colocam no papel de investigadores e buscam o conteúdo e quando o professor assume o papel de construtor de experiências de aprendizagem - sem dor na consciência por não estar "falando tudo" por horas -, então temos um cenário bastante relevante para a aprendizagem. Renaud arrisca dizer que quando as metodologias ativas forem uma constante nas aulas e arraigadas à nossa cultura, teremos uma das melhores experiências de aprendizagem, que será significativa e relevante, ficando realmente apreendida pelos estudantes.
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