Releases 01/06/2016 - 17:17

A importância da diversificação das suas fontes de recursos


(DINO - 01 jun, 2016) - Por Dan Cohen*

Gosto de chamar "risco de crédito" de "risco de refinanciamento". Isso porque entendemos que para a esmagadora maioria das empresas pequenas e médias o financiamento é estruturado para ser refinanciado e não necessariamente amortizado (mesmo que não te digam isso de maneira explícita). Se a sua empresa se encontra neste grupo fique sabendo que você é a regra e não a exceção.

Entendendo o risco de refinanciamento

O risco de refinanciamento possui duas origens: o Risco Interno de Refinanciamento (RIR) - relacionado a capacidade financeira e operacional de uma empresa continuar pagando as suas obrigações -, e o Risco Externo de Refinanciamento (RER) - relacionado a capacidade e a intenção dos financiadores dessa mesma empresa continuarem "rolando" as suas linhas de crédito ("trocando dinheiro velho por novo").

Em geral, o empresário conhece o "RIR" do seu negócio melhor do que ninguém e possui um bom nível de controle sobre o mesmo. Porém, na grande maioria dos casos, o empresário desconhece o "RER" do seu passivo e obviamente não possui qualquer ingerência sobre o mesmo.

Assim é preciso explicar de maneira simplificada como mensurar o "RER" e porque a diversificação das suas fontes de financiamento é essencial.

Risco externo de refinanciamento (RER) x IAC (Índice de Adequação do Capital)

Não dá para entender o conceito do "RER" sem compreender um dos melhores indicadores da liquidez dos seus financiadores bancários, o IAC (Índice de Adequação do Capital), também conhecido como Índice Basiléia. Em termos gerais, o IAC relaciona os ativos ponderados pelo risco e o capital proprietário das instituições financeiras. No Brasil, o Conselho Monetário Nacional e o Banco Central estabeleceram um piso de 11% para o IAC das instituições financeiras e de 15% para cooperativas de crédito.

A mecânica contábil e financeira do IAC é relativamente simples. Porém, para efeito do "RER", basta entender que as consequências de uma queda brusca do IAC de uma instituição bancária tendem a ser amplas: desde a elevação do custo de captação até uma crise de confiança entre poupadores e a necessidade de intervenção pelo Banco Central. E é neste ponto que o conceito de diversificação ganha importância.

Como os Bancos administram os seus IACs e como isso pode afetar o seu negócio?

São poucas e muito simples as opções para elevar-se um IAC:

? Promover a mudança de composição dos ativos reduzindo, por exemplo, a carteira de empréstimos.
? Obtenção de mais capital. Dentre ambas as opções a primeira é comprovadamente a mais rápida e mais barata. No entanto, pode trazer uma série de consequências indesejáveis para os tomadores de recursos, dentre elas:
? O aumento do custo destes recursos (juros superiores no refinanciamento);
? A necessidade da inclusão de novas garantias;
? O refinanciamento apenas parcial;
? O não refinanciamento.

E isso realmente acontece, quantos não são os empresários que já passaram por algumas dessas experiências?

Como o excesso de concentração pode efetivamente afetar o seu negócio?

Agora que já entendemos a dinâmica do IAC o raciocínio fica simples, basta imaginar que a sua empresa trabalha apenas com um banco que por razões obviamente fora do seu controle decida simplesmente não refinanciar a sua única linha de capital de giro. Do dia para a noite você deixa de se preocupar com a operação do seu negócio e começa uma corrida contra o tempo para encontrar um novo financiador.

Este exemplo pode parecer irreal porque é realmente difícil identificar uma empresa que não trabalhe com ao menos de três bancos diferentes. Sendo assim, com um risco de refinanciamento nunca superior a 33% (1/3) das linhas de crédito.

Essa simplificação seria possível se bancos fossem entidades completamente isoladas entre si, mas não são. E para comprovar a nossa tese "importamos" um conceito bem básico da moderna gestão de portfolios para o mundo do crédito: a correlação, que nesse caso foi aplicada sobre a variação dos IACs de diferentes instituições financeiras.

Pensando de maneira intuitiva, se dois bancos A e B tem IACs similares que ao longo do tempo apresentaram correlação próxima de um, é muito provável que as suas estratégias de crédito acabem sendo bastante similares também.

E é nesse caso que três bancos distintos podem acabar comportando-se como um e o risco externo de refinanciamento (RER) da sua empresa que aparentemente era de 33% passa a ser para 100% das suas linhas de crédito.

Da teoria para a prática:

Para dar uma clara noção do risco da não diversificação, definimos a partir da nossa base de dados seis bancos médios com os quais empresas médias geralmente trabalham. Temos boas e más notícias.

A má notícia: dentre estes seis, três possuíam correlações de IAC superiores a 0,8 entre si e em 2014 índices de IAC praticamente idênticos.

A boa notícia: dentro deste mesmo grupo encontramos várias combinações com correlações insignificantes (próximas de zero) ou mesmo negativas. Isso significa dizer que com uma mesma base de acesso (os seis bancos) a sua empresa poderia estar incorrendo em um "RER" altíssimo ou baixíssimo dependendo da sua sorte.

* Dan Cohen (dcohen@fdex.com.br) é financista e fundador da F(x), plataforma brasileira que une empresas e financiadores