Stellantis leva tema à COP30 com o objetivo de contribuir com a redução das emissões de CO2 e ampliar a mobilidade de baixo carbono no Brasil.
A transição energética tem ganhado novos contornos à medida que países ajustam suas estratégias de descarbonização às próprias estruturas econômicas e produtivas. No Brasil, esse debate tem sido marcado pela combinação entre eletrificação e uso de biocombustíveis, em especial o etanol, que há décadas integra a matriz automotiva nacional. Esse modelo tem sido defendido por empresas do setor, entre elas a Stellantis, que levou o tema à COP-30 com o objetivo de apresentar alternativas compatíveis com diferentes realidades de infraestrutura, renda e disponibilidade energética.
Segundo Herlander Zola, presidente da Stellantis para a América do Sul, políticas de redução de emissões precisam considerar os contextos locais. "As estratégias de descarbonização devem refletir as realidades regionais, respeitando as diferentes matrizes energéticas e os estágios de desenvolvimento de cada país", afirma. Para ele, o Brasil reúne condições estruturais para desenvolver um modelo próprio de mobilidade de baixo carbono. "O Brasil tem uma oportunidade de avançar em seu próprio modelo de transição energética, baseado em inovação, equilíbrio e valorização de competências locais."
A estrutura automotiva brasileira se consolidou ao longo de décadas com uma cadeia produtiva ampla, centros de pesquisa, fornecedores nacionais e operações industriais espalhadas por diferentes Estados. Esse ecossistema é apontado por empresas e especialistas como um ativo relevante na transição, especialmente porque pode favorecer a produção local de novas tecnologias, reduzir dependências externas e gerar empregos qualificados. "Essa base é essencial para sustentar uma transição energética segura, eficiente e conectada à realidade local", diz Zola.
Dentro desse contexto, a discussão sobre qual tipo de propulsão deve prevalecer tem dado lugar a uma abordagem plural. A avaliação é que o País reúne características que tornam viável a convivência de diferentes tecnologias, como motores flex abastecidos com etanol, híbridos e modelos elétricos. O etanol, em particular, ganha destaque por ser renovável e por apresentar reduções significativas de emissões ao longo do ciclo de vida - desempenho que, segundo estudos setoriais, pode se aproximar do de veículos elétricos em regiões onde a eletricidade ainda depende de fontes fósseis.
Sistema híbrido-flex
A Stellantis tem desenvolvido soluções que combinam eletrificação e uso de biocombustíveis. Entre elas está a tecnologia Bio-Hybrid, sistema híbrido-flex concebido no Brasil e aplicado em modelos produzidos localmente. Mais de 50 mil unidades já foram fabricadas com essa arquitetura. "Acreditamos que a descarbonização e a acessibilidade precisam caminhar juntas", afirma Zola. "A tecnologia Bio-Hybrid permite reduzir emissões sem impor rupturas ao consumidor e, ao mesmo tempo, fortalece a indústria nacional." A companhia também iniciou a integração de tecnologias provenientes da Leapmotor, como parte de um movimento de ampliação do portfólio eletrificado.
A transição energética envolve mais do que a escolha do tipo de propulsão. Para diminuir emissões ao longo de todo o ciclo do produto, montadoras têm incorporado práticas alinhadas à economia circular, incluindo reaproveitamento de materiais e aumento da vida útil de componentes. Em Osasco (SP), a Stellantis opera um centro de desmontagem veicular com capacidade para processar até 8 mil unidades por ano. No local, peças são remanufaturadas e materiais são separados para reuso ou reciclagem. Segundo Zola, "a descarbonização da mobilidade vai além da propulsão; envolve toda a cadeia automotiva, da mineração à destinação final dos veículos".
A expectativa do setor é que o avanço da transição no Brasil dependa de políticas públicas coordenadas com investimentos privados. Estruturas como rede de recarga elétrica, produção de baterias, expansão dos biocombustíveis e incentivos à pesquisa são apontadas como essenciais para o equilíbrio entre competitividade e redução de emissões. A diversidade da matriz energética brasileira - que inclui hidrelétricas, fontes renováveis e produção consolidada de etanol - é vista como um vetor estratégico para essa integração.
Os debates sobre esses caminhos devem ganhar dimensão internacional durante a COP-30, que está sendo realizada no Brasil. A conferência é considerada oportunidade para discutir modelos híbridos de transição e apresentar soluções desenvolvidas localmente, com potencial de aplicação em outros mercados emergentes. Para Zola, o momento exige cooperação entre diferentes agentes econômicos. "O futuro da mobilidade será construído a partir da colaboração entre governo, empresas e sociedade", afirma. "O Brasil pode liderar a transição energética global com soluções próprias e acessíveis."
A evolução da agenda climática no setor automotivo deve continuar acelerando nos próximos anos, impulsionada por requisitos regulatórios, exigências de mercado e novas tecnologias. A integração entre eletrificação e biocombustíveis aparece como uma das rotas possíveis para o país, articulando metas ambientais e condições industriais já estabelecidas.