No Estadão Summit Saúde & Bem-Estar 2024, painel explorou caminhos para integrar sistemas e garantir assistência eficiente em meio a restrições financeiras.
O Brasil enfrenta um desafio histórico quando o assunto é saúde pública. Em um país de dimensões continentais e realidades econômicas e sociais tão diversas, garantir que a população tenha acesso a cuidados de qualidade é uma questão cada vez mais premente. Esse foi o foco do brand talk "Reimaginando a medicina: qualidade assistencial e desafios financeiros", no Estadão Summit Saúde & Bem-Estar 2024. A discussão contou com a participação de Fábio Guimarães, diretor de Valor e Acesso da Novartis Brasil; Denizar Vianna, professor titular da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ); e César Franco, CEO da joint venture ABPF Oncologia. A mediação foi feita pela jornalista Camila Silveira.
Logo no início, Vianna deu o tom da conversa ao destacar os três pilares que sustentam qualquer sistema de saúde: acesso, qualidade e sustentabilidade. "O Brasil compromete hoje 4% do PIB com saúde pública, enquanto os países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) destinam pelo menos 6,5% para sistemas de acesso universal. Precisamos aumentar esse percentual, mas isso não será possível dentro das atuais regras fiscais", apontou.
Embora o Sistema Único de Saúde (SUS) tenha avançado em termos de acesso, Vianna destacou que ainda enfrenta grandes gargalos, especialmente na média complexidade. "O diagnóstico precoce e o acesso a especialistas são pontos críticos. Pacientes com câncer, por exemplo, muitas vezes esperam mais do que o necessário para obter um diagnóstico, o que compromete a eficácia do tratamento", explicou. Ele também enfatizou que o setor público, por si só, não conseguirá superar esses obstáculos. "É preciso uma colaboração entre os setores público e privado", completou.
A fragmentação do atendimento foi outro ponto crítico apontado pelo professor. "O paciente faz radioterapia em um lugar, quimioterapia em outro e o diagnóstico em um terceiro local. Precisamos integrar esses processos para garantir uma jornada contínua e eficiente", ressaltou.
Inovação e colaboração no setor de saúde
Já Fábio Guimarães, da Novartis, destacou o papel inovador da empresa no cenário de saúde brasileiro. "Nos últimos cinco anos, trouxemos 18 inovações ao sistema de saúde, incluindo a primeira terapia gênica, mas a inovação só é efetiva quando vem acompanhada de colaboração. Precisamos trabalhar em conjunto com o sistema público e as operadoras privadas para garantir que essas inovações cheguem a quem mais precisa", afirmou.
Como exemplo desse esforço colaborativo, Guimarães mencionou uma parceria da Novartis com operadoras de saúde, envolvendo aproximadamente 7,5 milhões de vidas. "Juntos desenhamos linhas de cuidado integradas. O tratamento é uma parte, mas o impacto real vem da gestão coordenada e da otimização de recursos", explicou.
César Franco, CEO da ABPF Oncologia, trouxe à discussão a experiência da joint venture entre BP, Bradesco e Fleury, criada para enfrentar os desafios de integração no atendimento oncológico. "Desenhamos todo o processo de cuidado de ponta a ponta, com tecnologia e indicadores que nos permitem acompanhar a jornada do paciente e garantir que o cuidado seja o melhor possível", destacou.
Durante o painel, ficou claro que colocar o paciente no centro do debate é fundamental. Vianna reforçou essa visão ao afirmar que "o paciente não quer saber se está sendo tratado pelo público ou privado, ele quer ser bem atendido". A frase, ecoada por todos os participantes, resume a urgência de uma maior articulação entre os diferentes agentes do sistema de saúde, sempre com foco nas necessidades reais de quem está na ponta do ecossistema.
Ao final, Guimarães sintetizou o sentimento geral: "A colaboração entre todos os agentes do sistema é o primeiro passo para transformar a ciência em soluções acessíveis e efetivas para os pacientes", concluiu.