São Paulo--(
DINO - 13 abr, 2017) - O futebol é capaz de estimular vínculos poderosos entre pais e filhos em países como o Brasil, onde é o "esporte nacional". Mas, para evitar que o jogo bretão não se transforme em potente deflagrador de traumas, violência e esgarçamento dos laços familiares, é preciso entrar em campo com inteligência emocional para lidar com vitórias e derrotas.
Nos 90 minutos de uma partida de futebol, a torcida se frustra, chora, canta e comemora como se ali, naquele reduzido espaço de tempo, se desenrolasse uma espécie de simulacro da vida. "Esses sentimentos vividos no esporte em geral, não apenas no futebol, produzem o efeito de uma musculação emocional nas crianças, que lhes dará a maleabilidade necessária para lidar com diversas questões ao longo da vida", explica o psicólogo do esporte do Centro de Estudos e Pesquisa da Psicologia do Esporte (Ceppe) de Curitiba, Marco Antônio Ferreira.
Ele atende em seu consultório atletas, treinadores e familiares de desportistas com o objetivo de redirecionar seus comportamentos, tendo em vista uma melhor performance esportiva.
Não raro consegue identificar as dificuldades enfrentadas pelos pacientes como um reflexo do modo como as relações familiares foram se estabelecendo ao redor do esporte desde a infância. "Costumo dizer que não existe um atleta de alta performance sem uma família de alta performance", afirma o psicólogo.
Ferreira explica que há uma fase da infância, na qual o vínculo entre o pai e o filho se estabelece muitas vezes através do futebol. "A convivência entre os dois se torna saborosa com a energia do esporte. O pai deixa de ser só aquele que cobra a lição, pergunta se arrumou o quarto. Cria-se um vínculo profundo, de amizade". Um pai que depois de um dia cansativo tem energia para chegar em casa e ficar brincando de bola com o filho está dizendo para ele: "Eu me importo com você". Isso cria uma memória positiva do esporte que a criança vai levar para a sua vida adulta. "Mesmo que em cinco ou dez minutos, ele está deixando essa mensagem bem clara".
O fortalecimento do vínculo passa pela disponibilidade, a vontade do pai completa Ferreira. Quando isso não ocorre, a criança vai brincar com o amigo imaginário, o vizinho, o videogame ou o computador.
Nesse convívio no gol a gol dentro de casa, no campinho ou nas arquibancadas, surgem os exemplos que serão incorporados à própria vida pelo novo praticante.
Se o pai for imaturo para admitir derrotas e criar expectativas excessivas em torno da vida esportiva do filho, pode causar grandes estragos emocionais.
Ferreira conta ter presenciado uma cena em que, em vez de o pai consolar o filho após a derrota de seu time em um campeonato, era o filho quem consolava o pai. "Isso é muito negativo para a criança. Não interessa o resultado, a função da família é apoiar e incentivar", diz.
Até mesmo em um torneio de "fraldinhas", diz o psicólogo, é comum ouvir pais gritando aos filhos "chuta alto", para que o goleirinho não consiga agarrar a bola. "Não é o jogar pelo prazer, mas pelo resultado", conta.
Em muitos casos, há uma identificação narcísica. O pai quer que o filho seja o atleta que não foi. "Vai haver duas frustrações aí, porque, se o menino não for um apaixonado pelo esporte que pratica, em algum momento vai se frustrar e, então, frustrar o pai", explica Ferreira.
Para que o esporte leve de fato à formação de adultos mais felizes, é preciso permitir à criança escolher entre os mais diversos esportes e, no caso de pais fanáticos pelo futebol, admitir inclusive que o filho não queira praticá-lo. "Crianças com uma atividade esportiva bem conduzida, bem acompanhada, terão um desenvolvimento não só físico e motor, mas emocional e intelectual mais aprofundado", explica o psicólogo do esporte.
Por: Marcos Pereira
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