São Paulo -SP--(
DINO - 22 mai, 2015) - A possibilidade de dispensar a presença de pediatra na sala de parto quando não houver riscos para o bebê e a mãe causou polêmica, obrigando o governo a se manifestar. O Ministério da Saúde abriu uma consulta pública a respeito e foi duramente criticado por associações médicas. Na sequência, o coordenador-geral de Saúde da Criança e Aleitamento Materno do ministério, Paulo Bonilha, afirmou que o texto não estava claro, mas que a presença dos profissionais estaria garantida.
A presidente do Instituto Abrace -ONG que dá apoio a famílias cujos filhos estão em tratamento intensivo - Maria Julia Miele questiona: "Quais serão as pessoas mais afetadas quando uma diretriz com essa abrangência é aprovada?"
Do ponto de vista técnico outros receios também devem ser considerados, como relata o especialista Renato Passini, Médico, Professor Doutor e Diretor da Divisão de Obstetrícia do CAISM/UNICAMP. Segundo Passini, "Há muitos questionamentos em relação a essa diretriz de operação cesariana, que envolvem vários aspectos, desde científicos, até algumas afirmações e opções de conduta". Ele explica, em texto publicado no site do Instituto Abrace, que em diversas situações mesmo sem sofrimento fetal aparente, poderá haver necessidade de atendimento especializado para o recém-nascido. "Essa recomendação, desconsiderando a necessidade de
pediatra em sala de parto durante a realização de uma cesárea, exceto em casos de evidência de sofrimento fetal e em situações de anestesia geral, não contempla inúmeras situações de risco que podem ocorrer com ou sem conhecimento prévio e
causar o nascimento de crianças deprimidas, que exigirão assistência médica adequada", argumenta.
E pontua: "Mesmo nas cesáreas eletivas há muitas situações em que a criança pode nascer deprimida e/ou necessitar de cuidados médicos logo ao nascer,
tais como: prematuros, pequenos para a idade gestacional, gemelares, filhos de mães
hipertensas e/ou diabéticas, situações de líquido meconial, etc. Nada disso está previsto no documento. Algumas vezes a cesárea pode ser um procedimento mais difícil do que se imagina, do ponto de vista de abertura de parede abdominal e/ou
dificuldade de extração fetal. Caso transcorra um período longo de tempo para realização dessas etapas cirúrgicas, isto pode causar necessidade de atendimento ao recém-nascido. Em algumas situações, os bloqueios anestésicos regionais podem
causar queda de pressão arterial e, com isso, comprometer a vitalidade do recém-
nascido em situações onde a reserva placentária é baixa. Portanto, mesmo sem
sofrimento fetal aparente, poderá haver necessidade de atendimento especializado para o recém-nascido".
A presença de pediatra na sala de parto hoje é regulado por resolução de 2014, que considera necessária a presença do profissional habilitado em todos os partos. Alterar isso seria um retrocesso e um risco à saúde infantil, defende a ONG, por isso o apelo
para que usuários e profissionais de saúde participem da consulta.
Assim como a Sociedade Brasileira de Pediatria, a ONG encaminhou uma nota com suas considerações à proposta e nossas preocupações e convocamos a população a fazer o mesmo, através do site.
Leia o texto do Dr Renato Passini no site:
www.institutoabrace.org.brParticipe da Consulta Pública no site:
http://conitec.gov.br/index.php/consultas-publicasSobre o Instituto Abrace
Criado em 2006, o Instituto Abrace é uma ONG que dá apoio a famílias cujos filhos estão em tratamento intensivo (UTI e home care). Já realizou diversas campanhas e atua em todo território nacional na defesa da humanização das UTIs, do respeito aos
direitos e informação das famílias. Publicou, entre outros, a Cartilha das Mães de UTI e o Manual "Delicadezas de UTI", disponíveis gratuitamente no site
Website:
http://www.institutoabrace.org.br