São Paulo, SP--(
DINO - 23 fev, 2016) - Como analisas este momento de desestruturação das contas públicas?
A desestruturação das contas públicas, hoje, é proveniente de erros anteriores. No passado, para ganhar a eleições foi preciso segurar os custos, principalmente, de energia e combustíveis entre outros serviços essenciais que o Estado ou oferece ou regula seu comércio e afeta diretamente o cidadão. Além disso, comete-se um incrível desgaste nas contas da Previdência, desonerando a folha de pagamento de alguns setores que pressionam politicamente o governo e, dessa forma, abriu um rombo de 120 bilhões, que reflete, agora, no controle do superávit primário e que, infelizmente, não conseguimos cumprir. Por isso, vivenciamos um verdadeiro caos nas contas públicas. O governo não realiza cortes de despesas necessários para rever seu próprio orçamento. O Legislativo e o Judiciário menos ainda. Quem paga a conta é a população.
Crê na redução de possibilidades de negociações salariais por parte dos servidores?
Infelizmente, com essa crise, que jamais foi vista neste país, existe sim a possibilidade de redução de negociação salarial dos servidores. Como disse, anteriormente, a conta é paga pelos trabalhadores em geral, e, especialmente pelos servidores públicos, que são colocados na mídia como os responsáveis pelo enorme déficit do orçamento público. Esquecem que o número de servidores vem caindo em relação à população e o nível de atendimento vem baixando por falta de recursos humanos e financeiros. O governo não coloca estrutura suficiente para atendimento nas áreas prioritárias como saúde, educação e segurança e a responsabilidade sempre recai sobre o servidor público. Por isso,a Pública tem que tentar o diálogo, de todas as formas, com os governantes, para defesa daquilo que é o direito do trabalhador do setor público, a revisão salarial, como ocorre nas negociações coletivas do setor privado.
Há fortes holofotes para o serviço público na Justiça, Fiscalização e Controle Público. É um reconhecimento da imprensa e sociedade para estas áreas?
Acho que é sim um reconhecimento nas instituições que realmente estão cumprindo o seu papel com honestidade, dignidade e com total independência. Temos que mostrar que isso deve aumentar e cada vez mais valorizar o servidor. Precisamos ficar atentos para que não sejam cortados recursos para prejudicar os trabalhos, como tem se divulgado ultimamente.
O servidor público sempre se ressentiu de ser coadjuvante nas decisões públicas. Chegou a hora de mudar isso? A Pública pode ser o instrumento para tanto?
Essa mudança é necessária e fundamental. Com a responsabilidade que o servidor tem, em todas as áreas, não podemos ser coadjuvantes nas decisões públicas. Nas últimas décadas, isso vem se agravando cada vez mais. A Pública pode e deve ser esse instrumento para dialogar e mostrar o verdadeiro papel do servidor que pode ser a diferença para a população, se seu trabalho estiver aliado com as boas práticas da Administração Pública.
Quais são suas preocupações de momento com o movimento organizado dos servidores públicos?
As preocupações perpassam pelo critério utilizado de se ouvir as centrais sindicais mais conhecidas, que na verdade nunca defenderam os servidores públicos. Os movimentos passam exatamente por elas e que não correspondem aos nossos anseios. Mais uma vez, a Pública tem que organizar movimentos para defender a real participação dos servidores e com isso valorizá-los como categoria e grupo fundamental da sociedade.
E os novos concursados, acredita que as entidades conseguirão atrair estes jovens?
Da forma que está não. É necessário que se faça treinamentos nas diversas áreas para mostrar o papel de cada um e a partir daí atrair os servidores mais novos no serviço público, para uma atuação mais efetiva.
A imprensa vem batendo na tecla do aparelhamento do Estado. Qual sua opinião?
O aparelhamento do Estado existe em quase todos os setores. Isso prejudica a gestão administrativa, interfere nas decisões e o resultado é um caos, que a população reclama com razão. Estamos escolhendo pessoas que não são preparadas, com isso passamos por uma baixa produtividade, fazendo com que a imagem do servidor fique cada vez mais abalada. A Pública tem que investir em campanhas para que esse cenário mude. Iniciar uma drástica e verdadeira redução dos cargos comissionados e defender o concurso público, como uma bandeira nacional, para ser a única forma de ingresso no setor público.
Entrevistada da Pública, realizada pelo jornalista Sergio Lerrer.
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