São Paulo (SP)--(
DINO - 02 dez, 2015) - Estima-se que o número de domicílios brasileiros que não apresentam condições adequadas de moradia seja de 11 milhões. Apesar disso, essas casas são habitadas por famílias que, sem escolha, vivem em situação insalubre ? em meio a paredes com infiltração, mofo, ambientes escuros, sem acesso à luz natural e sem saneamento básico.
Mudar a realidade desses brasileiros é o objetivo do Programa Vivenda, um negócio social que, há quase dois anos, oferece aos moradores da Favela Erundina, na zona sul de São Paulo, a oportunidade de reformar a casas de forma rápida, barata e com qualidade. A ideia pode parecer um sonho, mas tem bases bem concretas e foi desenvolvida pelo administrador Fernando Assad, 32 anos.
São cinco diferentes kits de reforma: cozinha, banheiro, área de serviço, sala e quarto. Todos já incluem planejamento e mão de obra qualificada para os reparos. As obras são finalizadas em, no máximo, duas semanas, e os moradores podem financiar o custo em até quinze vezes, por meio do microcrédito. "Para famílias com renda mensal inferior a 1,5 salário mínimo, oferecemos reformas subsidiadas em parceria com o Instituto Azzi. Essa organização arca com 90% dos custos da obra, e os moradores pagam, no máximo, dez parcelas de R$ 90", explica Fernando.
Talento de berço
O interesse pelo setor habitacional está no DNA da família desse empreendedor. Seu bisavô, nascido na Síria e carinhosamente chamado pelo bisneto de Velho Assad, construiu vários prédios na Vila Mariana para se firmar no Brasil. Os imóveis são, até hoje, a fonte de renda da família e os grandes responsáveis por despertar o interesse de Fernando para o ramo.
Aos 21 anos, enquanto ainda cursava administração na USP (Universidade de São Paulo), ele fundou sua primeira empresa: uma consultoria para elaboração de projetos na área social. Desde que mergulhou nesse universo, foi juntando bagagem para criar o Programa Vivenda. Em parte, pela participação em outros projetos, mas também pelo contato com mestres inspiradores. É o caso do consultor Aerton Paiva, da Gestão Origami, que é especialista em Estratégia de Sustentabilidade. "Com ele, aprendi a inovar e a planejar nos negócios", diz o pupilo.
No Amapá, onde gerenciou um projeto de atendimento a comunidades quilombolas, com patrocínio da Fundação Avina, Assad aprendeu a ouvir as demandas da população. Já no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, o empreendedor teve a oportunidade de trabalhar com o educador Tião Rocha no projeto Araçuaí Cidade Sustentável, que lhe inspirou a criar kits de reforma para levar melhorias habitacionais aos moradores das favelas paulistanas.
A partir daí, para o Vivenda se tornar realidade, bastou conhecer seus futuros sócios ? o arquiteto Igiano Lima de Souza e o historiador Marcelo Coelho ? durante o projeto de urbanização da favela do Pantanal, na zona leste de São Paulo (SP). Eles trabalhavam havia dez anos na equipe técnica social da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de SP) e estavam deixando a empresa para atuar em um projeto de geração de renda. Era chegada a hora da inovação para o trio.
Presença garantida na comunidade
O Programa Vivenda nasceu, então, em janeiro de 2014 e já realizou 156 reformas, impactando positivamente a vida de 590 pessoas. Desde o início, Assad faz questão de trabalhar in loco. Todos os dias, ele sai do Butantã, onde mora, e vai para o Jardim Ibirapuera, no Capão Redondo, zona sul da capital. É lá que fica o escritório do Vivenda, próximo das habitações de seus potenciais clientes, como a dona de casa Abigail Pellegrini.
Moradora da Favela Erundina, ela conseguiu reformar seu banheiro, pagando dez prestações de R$ 90, por causa do projeto de Assad. "O Fernando caiu do céu! Antes, eu morria de vergonha do meu banheiro. Agora, deixo até a porta aberta. É o lugar a que mais levo as visitas", conta Abigail, que já não vê a hora de investir novamente e reformar seu quarto, onde a ventilação não é muito boa.
Para realizar o sonho de mais pessoas como a dona Abigail, o empreendedor quer consolidar seu modelo de negócio na Favela Erundina, que abriga cerca de sete mil domicílios, para depois expandi-lo para outras comunidades. "Ao completar 500 reformas, creio que nosso modelo de venda e operação estará pronto para ser "empacotado" em escala para outras regiões. Isso deve demorar uns dois anos", planeja.
Pelo trabalho que desempenha e por todo o impacto positivo que está causando na região onde atua, Fernando Assad venceu o Prêmio Folha Empreendedor Social de Futuro 2015. Realizada pela Folha de S.Paulo, a premiação reconhece e promove novos talentos sociais, entre 18 e 35 anos, que empreendem de forma inovadora na sociedade há no mínimo um ano e, no máximo, três.
Site do Programa Vivenda:
www.programavivenda.com.br Página de download de fotos dos finalistas dos prêmios:
http://www.pbcomunica.com.br/PES2015/Crédito das fotos obrigatório para Renato Stockler/Na Lata
Vencedores do Prêmio Folha Empreendedor Social de Futuro
2014: Ronaldo Tenório, Carlos Wanderlan e Thadeu Luz (Hand Talk) ? Maceió (AL)
2013: Alexandre Amorim, Luiz Ribas e Diego Moreira, Asid (Ação Social para Igualdade das Diferenças) ? Curitiba (PR)
2012: Fernando Botelho, F123 ? Curitiba (PR)
2011: Henrique Cardoso Saraiva, Luana Nobre e Phelipe Nobre, Adaptsurf (Associação Adaptação e Surf) - Rio de Janeiro (RJ)
2010: Wagner Gomes, Adel (Agência de Desenvolvimento Econômico Local) ? Pentecoste (CE)
2009: David Hertz, Gastromotiva ? São Paulo (SP)
Website:
http://www1.folha.uol.com.br/empreendedorsocial/