Rio de Janeiro--(
DINO - 14 mar, 2016) - Como medir corretamente a sustentabilidade de um projeto? A pergunta que tanto inquieta gestores em todo o mundo não tem resposta fácil, mas o livro "Indicadores de Sustentabilidade na Prática", lançado esta semana no Rio de Janeiro, promete colocar uma luz sobre o que é de fato útil na hora de mensurar um projeto sustentável. Segundo a cientista Agnieszka Latawiec, co-fundadora do Instituto Internacional para Sustentabilidade (IIS) no Rio e pesquisadora de pos-doc na PUC-Rio e editora do livro, o trabalho analisa casos no Brasil, na África e na Europa para entender as melhores práticas e chega à conclusão que mais do que encontrar um indicador ideal, deve-se buscar indicadores combinados que abordem aspectos sociais, ecológicos e econômicos para demonstrar se, após a intervenção, houve desenvolvimento local e ou conservação da natureza.
"Os pesquisadores devem sempre considerar o contexto de seus projetos e utilizar vários indicadores. É preciso conhecer o histórico do lugar, a cultura, as questões sociais e econômicas. Se o objetivo for a restauração ecológica, por exemplo, a mera área reflorestada pode não ser suficiente para indicar o sucesso da restauração. Em vez disso, a diversidade das espécies plantadas e a sua sobrevivência devem ser levadas em consideração", diz Agnieszka , que editou o livro em conjunto com a cientista africana Dorice Agol, com a participação de mais de 20 pesquisadores, entre brasileiros e estrangeiros.
Na avaliação da pesquisadora, um bom indicador de sustentabilidade também deve mostrar a duração dos efeitos do projeto estudado. O problema, explica, é que na maioria das vezes, o que se avalia é um resultado imediato da intervenção (ou só da atividade, ainda pior), que não necessariamente reflete sustentabilidade.
"Se olharmos para as Olimpíadas 2016, por exemplo, é aconselhável considerar, além do indicador criação dos postos do trabalho, medições de treinamento ou capacity building, pois esses são os efeitos que vão durar. Já postos de trabalho e renda muitas vezes desaparecem logo depois das olimpíadas. A mesma coisa acontece com infraestrutura. Não basta dizer que foi criada. Ela serve para depois? A criação de boa imagem da cidade é importante e traz benefícios em longo prazo, mas, para ser sustentável, devem ser considerados os impactos de longo prazo na população local. Seria importante fazer uma avaliação dez anos depois do fim das Olimpíadas", explicou.
Os casos relatados no livro abordam projetos ligados a temas como água, agricultura, biodiversidade, saneamento, poluição do ar e mudanças climáticas. O trabalho é open acess e pode ser baixado para download no endereço
http://www.degruyter.com/view/product/465479O livro é direcionado para professores, estudantes, profissionais de empresas e o público em geral que acompanha o tema. A expectativa dos autores é que a publicação seja uma contribuição para disseminar as boas práticas do uso dos indicadores para todo mundo e um incentivo para as pessoas se tornarem mais críticas quando ouvirem falar sobre sustentabilidade.
"Depois de entender a real função dos indicadores, as pessoas vão questionar melhor os resultados apresentados para entender se de fato estes trouxeram desenvolvimento para aquela comunidade ou região ou não. O livro gera no leitor estas reflexões e isso já é um indutor de mudanças",
diz ela.
Um bom indicador deve ter algumas características:
1. Devem compreender os processos e pessoas para os quais são relevantes.
2. Podem ser quantitativos e qualitativos, mas ambos devem ser uma medida, e não uma vaga aproximação daquilo que pretenda ser medido.
3. Devem ser bem desenvolvidos e cuidadosamente escolhidos a fim de evitar declarações e decisões erradas, que podem resultar em consequências negativas para o desenvolvimento sustentável.
4. A mediação deve depender do objetivo que foi definido antes de uma determinada intervenção.
5. Devem capturar os cenários futuros.
Sobre as editoras:
Agnieszka Latawiec
Dra. Agnieszka Ewa Latawiec é um co-fundadora e diretora de pesquisa do Instituto Internacional para a Sustentabilidade (IIS) no Brasil e professora Associada da Universidade de Tecnologia de Opole, na Polônia. É também pesquisadora pós-doutorado no Departamento de Geografia e Meio Ambiente na PUC Rio. É PhD em Ciências Ambientais pela Universidade de East Anglia da Inglaterra, onde atualmente é pesquisadora na Escola de Ciências Ambientais. Agnieszka pesquisa os aspectos mais amplos da gestão da terra e liderou uma série de projetos relacionados com a mudança do uso da terra e modelagem. Em 2013, participou da concepção da primeira disciplina de Ciência Sustentabilidade na PUC Rio. Desenvolve pesquisa interdisciplinar e colaborativa em temas: ciência do solo, manejo da terra, tomada de decisão ambiental, mudança no uso da terra, as avaliações de impacto, ciência sustentabilidade e indicadores.
Dorice Agol
Dr. Dorice Agol é consultora internacional em meio ambiente, gestão dos recursos naturais e do desenvolvimento internacional e é pesquisadora na Escola de Desenvolvimento Internacional da Universidade de East Anglia (UEA), no Reino Unido. Dorice é PhD em Desenvolvimento Internacional da UEA, MSc. Ciências Biológicas e Gestão de Recursos Naturais, na Universidade de Leicester e professor na Universidade de Southampton, no Reino Unido. É uma cientista de pesquisa multidisciplinar com um leque de conhecimentos especializados, incluindo: técnicas quantitativas e qualitativas de pesquisa, avaliação de impacto ambiental socioeconômico, gestão de projetos, análise jurídica e política, acompanhamento e avaliação, governança dos recursos naturais, serviços dos ecossistemas, água, alterações climáticas, a responsabilidade social das empresas e HIV / AIDS. Possui experiência de mais de 15 anos de trabalho na África Oriental e Europa.
Website:
http://www.iis-rio.org/