Rio de Janeiro, RJ.--(
DINO - 16 mar, 2017) - Quando foi convidado pelas Edições Colibri, da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa para participar da Nova Antologia Portuguesa, um projeto do jornalista e escritor Ângelo Rodrigues e Célia Cadete, Frederico Rochaferreira não teve trabalho na escolha do tema. Do leque de ensaios, crônicas, reflexões e artigos de opinião, que orbitam suas obras, o pequeno ensaio; "Por que o Brasil não tem filósofos?" foi logo escolhido, primeiro por ser de fácil leitura e entendimento e segundo, por se tratar de um tema real e complexo em si mesmo. Para o escritor, a oportunidade de expor ao público português, os vícios educacionais enraizados no Brasil e suas consequências, é também a oportunidade de dizer que tais vícios são heranças dos nossos colonizadores.
Para o jornalista e escritor português Ângelo Rodrigues, coordenador do projeto, a intenção foi reunir os melhores autores em cada gênero literário e fazer uma obra inédita:
"Nesta obra, todos os gêneros literários são importantes. O que queremos, assumidamente, é uma antologia inovadora e "Eclética", é um projeto absolutamente diferenciado e não encontra paralelo em outras antologias, por isso; o empenho que tivemos na máxima qualidade literária, em todos os gêneros."
Questionado sobre a importância de participar desse desafio, Frederico Rochaferreira diz que foi uma experiência importante, sobretudo para expor seu pensamento ao público europeu, mais íntimo da leitura e mais exigente:
"No Brasil predomina uma literatura de assimilação de ideias, voltada ao entretenimento, não uma literatura de estímulo à produção de ideias, que leva ao conhecimento. Portugal por outro lado, apesar de cultuar o gênero mundano, dele sabe se distanciar em busca de outras realidades, como por exemplo, voltar-se ao estudo das realidades sombrias da modernidade, onde se é possível discutir e revisar o homem português e com isso manter o vínculo com o passado, o que torna os escritos portugueses, também, uma literatura reflexiva por excelência, exatamente o que o Brasil não faz".
No ensaio "Por que o Brasil não tem filósofos", Frederico Rochaferreira não entra na "Teoria das Representações", como faz no capítulo homônimo do seu livro "A Razão Filosófica". Aqui, o escritor faz uma interação prática com estudantes e professores de filosofia sobre o simbolismo do título, onde exemplifica as consequências trágicas da memorização de textos e fórmulas instituída pelo sistema de ensino brasileiro.
"FHá um ciclo vicioso em nossas instituições que passa de professor a aluno. O professor não ensina o estudante a pensar, mas a memorizar, por conseguinte o estudante não aprende a pensar, a compreender os porquês, aprende a "decorar" textos e fórmulas para fazer as provas. Um exemplo do que digo pode ser ouvido no áudio de uma aula do professor Roberto Machado, titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, homem que carrega consigo o título de filósofo com Pós Doutorado; estágio sob a supervisão de Foucault e aluno esporádico de Deleuze. No áudio, Roberto Machado fala do método como administra as suas provas com a recomendação a seus alunos, de que copiem tudo aquilo que diz ou escreve e memorizem para as provas. Não há preocupação do professor que seus alunos compreendam de fato aquilo que está dizendo ou escrevendo, a preocupação é que seus alunos tirem notas altas e todas as facilidades são dadas para esse objetivo. O que concluímos de tudo isso é uma sinistra cumplicidade que há entre professores e alunos e o motivo é que ambos são vítimas do mesmo e precário método de ensino e a síntese desse vício educacional é o corpo do ensaio; "Por que o Brasil não tem filósofos?".
O vídeo (áudio) acima citado têm o título de "Deleuze por Roberto Machado aula 02" e pode ser acessado no endereço:
https://www.youtube.com/watch?v=0It7qqaZXuIWebsite:
http://www.sitefilosofico.com/frederico-rochaferreira