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DINO - 14 jun, 2016) - Doutora e mestre em Filosofia da Psicanálise pela Universidade de Campinas (Unicamp), Fernanda Silveira Corrêa vai lançar, no dia 2 de julho, na Livraria da Vila, em São Paulo, o livro "Filogênese na metapsicologia freudiana", pela editora da Unicamp.
Baseado numa tese defendida na universidade, o livro discute a formação do homem civilizado sob a ótica de Sigmund Freud (1856-1939), considerado o criador da psicanálise.
A obra tem como base principal uma leitura aprofundada feita pela autora de um manuscrito de Freud, intitulado "Visão geral das neuroses de transferência", escrito em 1915, mas só descoberto recentemente, no qual o pai da psicanálise tenta estabelecer as bases do homem civilizado.
É com base nas ideias desse manuscrito ? e indo na contramão de diversas correntes de estudos sobre a mente ? que Fernanda Silveira Corrêa defende no livro a tese central de que é a "patologia", ou seja, a "doença", e não a chamada "normalidade" que tem maior capacidade de revelar as verdadeiras faces do ser humano.
Para explicar isso, a autora lembra uma metáfora de Freud ? que estudou profundamente as neuroses e psicoses ?, no qual o psicanalista austríaco comparou a mente humana a um "diamante" que, ao ser quebrado, revelaria sua estrutura interna.
"As doenças e os transtornos da mente seriam como esse "diamante que se quebra" e que revela a estrutura do ser humano", resumiu Fernanda.
Nesse sentido, explica a autora com base na ótica de Freud, a existência da civilização humana dependeu de seis elementos primordiais e interligados.
Primeiro, a sexualidade desvinculada da função sexual biológica. Depois, a capacidade desse impulso sexual de se satisfazer na fantasia. Então, a habilidade da sexualidade em se transformar em inteligência e vontade de poder.
Em seguida, o masoquismo. "Pois a vontade de poder é violenta, e os mais fracos, que sofrem a violência, passam a desejá-la, o que proporciona a obediência, por exemplo, às leis e regras do mais poderoso", explicou a autora.
Também, o amor aos iguais. "Pois os mais fracos se unem no ódio contra o forte e violento, desenvolvendo a contrapartida desse ódio em amor aos iguais, aos fracos que sofrem a violência", detalhou Fernanda.
Por fim, o ódio contra si mesmo, que é a culpa pelos próprios impulsos, diz a psicóloga e psicanalista.
A autora afirma que para Freud, na história da espécie, esses seis elementos, que são as disposições filogenéticas, teriam surgido, ora compondo-se, ora contrapondo-se uns com os outros, até constituírem o ser humano civilizado.
Para Fernando Hartmann, psicanalista e professor da Universidade Federal do Rio Grande (FURG), o livro é importante para o atual debate sobre a homossexualidade ou sobre as diferentes formas de sexualidade humana, seja na Europa ou na América do Sul.
"O importante dessa obra está em afirmar que a perda da função sexual biológica e a necessidade de recuperá-la constituíram um espaço de criação, ou seja, que a perversão é a origem da sublimação. Nesse sentido o texto traz uma grande contribuição à pesquisa psicanalítica e psicológica, além de relacionar, como Freud indicou em seus textos, antropologia, filosofia e psicanálise, sem reduzir uma a outra", explicou o especialista na "orelha" da publicação.
A autora reforça no livro uma questão clássica na interpretação da obra de Freud: a ideia de que o ser humano utiliza a energia sexual, sublimada, ou seja, convertida em inteligência, para se desenvolver rumo à civilização.
A obra compara a visão freudiana de "amor pelo igual" com o conceito desse mesmo tema de outro importante pensador, o filósofo alemão Nietzsche (1844-1900). Segundo Fernanda, ambos consideravam esse amor fruto do ressentimento".
"Na verdade, é um ódio ao diferente que acaba se expressando em amor ao igual. Essa necessidade de homogeneização acaba se tornando uma enorme intolerância daquele que não é homogêneo. Então, é um amor que encobre um ódio ao diferente. Nesse sentido, Freud é mais pessimista que Nietzsche, pois considera o ressentimento um dos fundamentos da civilização", resumiu a autora, que além de psicóloga e psicanalista, foi professora em cursos de psicologia na Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR) e em diversas universidades privadas em São Paulo.
Serviço:
Livro: Filogênese na metapsicologia freudiana.
Autora: Fernanda Silveira Corrêa.
Editora: UNICAMP, 389 páginas.
Preço: R$ 60,00.
Lançamento: dia 2 de julho, sábado, às 16h, na Livraria da Vila, Rua Fradique Coutinho, 915, Pinheiros, São Paulo (SP).
Website:
http://www.editoraunicamp.com.br/produto_detalhe.asp?id=1081