São Paulo, SP--(
DINO - 11 nov, 2016) - Como promover o alinhamento dos colaboradores em torno da estratégia organizacional e como modelar a cultura corporativa e gerar engajamento das equipes para o efetivo alcance das metas da organização, é uma questão que tira o sono de muitos gestores.
Para os pesquisadores Marco Aurélio Morsch e Ricardo Fonseca, professores do Curso de Extensão "Storytelling como ferramenta para cultura organizacional", da Universidade Mackenzie, a solução pode ser a técnica de contar histórias.
"Um dos maiores desafios atuais da gestão e liderança é como motivar as pessoas para entregarem resultados extraordinários" constata Morsch, que também é consultor e fundador da Morsch Consulting, empresa especializada em gestão e liderança.
A palavra "motivação" é uma das mais buscadas no Google. Um estudo feito nos EUA indicou que 70% dos colaboradores sentem-se desmotivados no trabalho e 75% dizem que deixaram o trabalho por causa de seus chefes ? maus gestores. No Brasil, apenas 37% dos trabalhadores se sentem motivados.
Storytelling, ou contação de histórias, é uma tradição social que acompanha a civilização humana desde o tempo das cavernas. Mas somente nas últimas décadas ela passou a ser sistematizada no âmbito das empresas.
"Histórias são fenomenais. Uma grande história muda qualquer coisa" esclarece Morsch. "Elas facilmente conectam e contagiam as pessoas. Elas tem o poder de mobilizar, agregar relevância e prover significado. Tem sido cada vez mais utilizada para engajar equipes".
O papel do líder como contador de histórias
"Líderes empresariais são grandes contadores de histórias", explica Morsch. Por exemplo, o ex-presidente da GE, Jack Welch, conta como sua mãe incutiu bastante amor e autoconfiança nele para superar o fato de que ele era o garoto mais baixinho em sua classe e tinha uma gagueira grave. Jeff Bezos, fundador da Amazon.com, muitas vezes conta a história de como criou o primeiro escritório da empresa em uma garagem convertida.
Algumas empresas institucionalizaram o storytelling como prática gerencial, fazendo seu uso para agregar valor em diversas atividades diversas como comunicação corporativa, propaganda e gestão de pessoas. Na Nike, por exemplo, todos os altos executivos são designados "contadores de histórias corporativas". Na Procter & Gamble, a empresa contratou diretores de Hollywood para ensinar técnicas de storytelling para seus executivos.
Dados excitam a mente, mas não conquistam corações. Conforme Ricardo Fonseca, que também é consultor e sócio-diretor da 4Humagers Consultoria: "Apenas 5% das pessoas se lembram dos gráficos e estatísticas apresentados em uma reunião, enquanto 63% se lembram facilmente de uma história contada".
"Como temos ensinado em nossos cursos, estudos no campo da neurociência explicam como o storytelling afeta o cérebro das pessoas" ressalta Fonseca. "A história ativa partes no cérebro que permite ao ouvinte modificar a história conforme suas próprias ideias e experiências graças a um processo chamado acoplamento neural. Como um espelho, os ouvintes experimentam atividades neurais semelhantes ao apresentador.
O cérebro libera dopamina no sistema nervoso quando o indivíduo experimenta uma situação emocionalmente desafiadora, tornando mais fácil a memorização do evento com maior acuracidade."
Como os líderes utilizam o storytelling
Um estudo internacional revelou que vários gestores adotam a técnica de contar histórias no seu o dia a dia para motivar os colaboradores e inspirar a mudança cultural. Eles consideram o storytelling como uma habilidade inerente à função do líder, "uma parte integral do que fazem".
Para os entrevistados, histórias são a maneira mais efetiva de se conectar com as pessoas e construir o tipo de clima onde os colaboradores sentem-se confortáveis e receptivos para internalizar os objetivos organizacionais. "Histórias emocionam e são memoráveis, elas humanizam a organização", disse um gerente. "A contação de histórias é absolutamente crítica para a mudança cultural. Ela ajuda as pessoas a aprender lições. As pessoas facilmente a ouvem, a interpretam e a armazenam de uma maneira melhor", disse outro entrevistado.
Para Fonseca, "o storytelling é uma habilidade gerencial que pode ser aprendida e aprimorada.
"Estruturar uma metodologia que permita facilitar a construção de histórias dentro do ambiente corporativo, criando parâmetros e caminhos para conexão entre cenário e cultura organizacional, perfis e arquétipos, trama e missão, entre outros aspectos, é essencial para contar uma boa história".
"Para isso, existem princípios, técnicas e habilidades requeridas", continua o especialista. "Uma boa história deve ser interativa, visual, conectar-se emocionalmente com o ouvinte e usar diálogos realistas ao introduzir personagens com os quais o interlocutor se identifique. Ao utilizar palavras, símbolos ou recursos audiovisuais para transmitir um conteúdo e compartilhar conhecimento, a arte de contar histórias acaba aproximando as pessoas da empresa, pois o ser humano estabelece ligações interpessoais e conexões emocionais através de uma narrativa".
Como implementar a prática do storytelling nas empresas? Para os dois pesquisadores, essa implementação exige a construção da conscientização junto aos gerentes da arte e da ciência de contar histórias. Uma vez consciente do que contar histórias significa, e do impacto que pode advir, o próximo passo é a construção de um repertório e currículo que demonstre a aplicação estratégica do storytelling em treinamento, definição de expectativas e diretriz organizacional.
Depois, a empresa deve criar uma plataforma para ampla utilização da contação e capturação de histórias junto aos departamentos. Finalmente, garantir que os líderes sejam especialistas em storytelling, incluindo-a como uma habilidade necessária para aquisição e desenvolvimento de talentos, e recompensando a efetiva aplicação dessa habilidade na mudança organizacional.
Na opinião dos dois especialistas, a melhor maneira de fazer uma mudança cultural é através do storytelling. Para eles, será a narração de histórias que irá criar efetivamente a mudança cultural que a alta direção deseja perdurar.
Website:
http://up.mackenzie.br/extensao/cursos-de-extensao-2016/gestao-e-negocios/estrategia-e-inovacao/storytelling-como-ferramenta-para-cultura-organizacional-2811-a-1212/