São Paulo--(
DINO - 28 ago, 2015) - Francisco Borges (*)
A crise multifacetada que o país vive atualmente ocorre em um momento histórico muito especial, relacionado à evolução das classes sociais e da pirâmide etária de sua população. Desde o final do século 20, com a sucessão de governos democráticos, que passaram a investir em políticas econômicas estruturais visando melhor distribuição de renda e o acesso das classes mais baixas à maior quantidade de bens e serviços, a pirâmide social se transformou.
Dados dos segmentos de alimentos, viagens e seguros destacam a abertura de mercados e o acesso inédito de parte da população ao consumo de variados bens e serviços. Essa transformação proporciona a elevação do nível de desejos, objetivos e de satisfação. Com isso, surge a expectativa de que as próximas gerações sejam mais críticas e tenham maior conhecimento e capacidade de entendimento.
Novas vivências resultantes de um número maior de anos de estudos, de visitas a ambientes diferentes, de relação com outros tipos de serviços e atendimentos amplia o portfólio de conhecimento, apura sentidos e estimula a exigência por melhores serviços e produtos.
A mudança na composição etária da população tem impactos francamente positivos em sua capacidade produtiva. Hoje, há muito mais jovens e adultos do que crianças, o que significa um superávit da porção economicamente ativa. Este momento denomina-se Bônus Demográfico. Se bem administrado por políticas públicas, pode resultar no aumento da produtividade das empresas brasileiras, do PIB, da renda per capita da arrecadação de impostos, que podem ser transformados em recursos para capacitar mais e melhor a força produtiva. Porém, impressiona todos os indicadores apresentados nos últimos meses irem na direção oposta a esta realidade das pirâmides populacionais - Etária e de Classes Sociais.
Como impor a realidade dos números geográficos frente ao quadro econômico desta crise? A resposta correta e mais rápida é com Educação, com destaque para a Educação Profissional que, além de capacitar e ampliar o escopo produtivo, cria senso crítico. A reversão mais rápida possível deste processo de deteriorização econômica e de falta de confiança na gestão política está na retomada dos programas de estímulo à educação.
O PRONATEC traz em seus programas ? já estabelecidos e ainda não implantados ? todas as soluções para a retomada da confiança dos setores produtivos e pelo estabelecimento de uma parceria entre empresas e cidadãos que concluíram o ensino médio e que precisam de apoio para requalificação ou para a especialização em segmentos que demandam formação especializada.
Dentre os programas já desenhados e nunca efetivamente aplicados que constam no PRONATEC, destaca-se o e-tec, que prevê formação profissional à distância. É adequado ao aluno que precisa trabalhar e estudar. Há também o FIES Técnico, que provê financiamento dos estudos profissionalizantes de nível médio, nos moldes do que ocorre com o FIES para a graduação. Se bem desenvolvido, o que passa pela por ora ausente análise da oferta de vagas e aproximação com os setores empregadores, pode garantir o fortalecimento de segmentos produtivos estratégicos. Outra modalidade do gênero é o FIES Empresa, que financia estudos profissionalizantes vinculados a empresas de setores prioritários que precisem de profissionais com formação qualificada.
A formação de mão de obra, a requalificação de profissionais para melhorar as performances de setores produtivos deve ser a linha mestra da retomada do crescimento econômico.
Em qualquer país, essa transição só acontece uma vez e somente uma vez se pode utilizar a condição do bônus demográfico, principalmente se aliada à estrutura de evolução de classes sociais. Essa janela de oportunidade de nada adiantará para a solução dos problemas sociais se o país não for capaz gerar a mão de obra e incentivar as potencialidades da alta proporção de pessoas capazes de contribuir para a elevação da produção e da produtividade.
(*) Francisco Borges é consultor da Fundação FAT em Gestão e Políticas Públicas Voltadas à Educação