São Paulo, SP--(
DINO - 08 out, 2021) -
Uma caixa de papelão recebe marcações com fita crepe. Algumas aberturas são feitas com a tesoura sem ponta. Adesivos coloridos somam-se ao projeto. Por não parecer muito firme, recebe algumas camadas de fita crepe para reforçar sua estrutura. Um nome é escrito na parte da frente da caixa. Está pronto o brinquedo: um robô inspirado no personagem de um filme que a criança assistiu com a família.
Aqui a brincadeira começou já na imaginação do que seria esse objeto que proporciona o brincar. Foi construído a partir de hipóteses, tentativas, erros e descobertas. Poderia ser mais fácil comprar um robô na internet que chegaria no dia seguinte e garantia menos sem sujeira? Para os adultos, sim. Já para as crianças, muitas vezes o 'fazer' é parte fundamental da brincadeira.
Aos adultos, basta resgatar na memória: certamente serão lembradas brincadeiras individuais ou coletivas, que esbanjam imaginação e deixariam qualquer especialista em criatividade de queixo caído.
Com o passar dos anos essa capacidade de imaginar vai ficando de lado e as brincadeiras acabam parecendo coisa de criança apenas. Até que nascem os filhos e é preciso abrir a caixa de memórias onde ficou guardada a lembrança de como se brinca.
O que brincar faz por uma criança?
A brincadeira é o modo de a criança estar no mundo. No brincar, elas se deparam consigo e com os outros, divergem, convergem e aprendem. Constroem suas hipóteses sobre o mundo, com olhos de quem pergunta. Há estudiosos que relacionam o olhar investigativo das crianças ao dos cientistas.
Brincar possibilita que as crianças desenvolvam um conjunto de habilidades. Além de coordenação motora e desenvolvimento cognitivo, ampliam a capacidade de interagir em grupos e reduzem o estresse tóxico, entre tantas outras capacidades.
Mas os benefícios não ficam apenas com as crianças. Os pais — ao se envolverem nas brincadeiras — além de contribuir com o desenvolvimento dos pequenos, ainda recebem uma dose de ocitocina, o hormônio do prazer. Então, de forma simplificada, brincar com seu filho (além de divertido) funcionaria como uma massagem relaxante para o seu cérebro.
Como os pais podem ajudar o desenvolvimento das crianças com brincadeiras
Um novo estudo explora os pilares básicos da aprendizagem apoiados pela ciência e exemplos de espaços lúdicos que os incorporam. A proposta da
pesquisa desenvolvida na Penn State University, da Pensilvânia, é contribuir para que esses espaços de aprendizagem lúdicos estejam além das escolas.
“Como podemos transformar esses espaços do cotidiano para incentivar a aprendizagem lúdica e promover conversas entre adultos e crianças?”, se questionam os pesquisadores envolvidos no estudo.
Eles analisaram exemplos de espaços que incorporaram os pilares em seus designs. Um dos exemplos foi o
Urban Thinkscape, uma instalação que transformou um ponto de ônibus em um espaço lúdico de aprendizagem que fomenta brincadeiras e conversas.
Um dos recursos incorporados foi um elemento denominado Histórias, que inclui ícones colocados no chão com diferentes imagens que podem ser usados ??para contar histórias.
De acordo com os pesquisadores, conforme as crianças vão de ícone em ícone e criam uma história, elas desenvolvem habilidades narrativas, que são uma parte fundamental da alfabetização.
Embora o artigo tenha se concentrado em espaços públicos que incorporam esses elementos, é possível adotar essas práticas em casa e contribuir com a experiência das crianças.
Na prática, um exemplo seria deixar a criança liderar o tempo de brincadeira e oferecer apoio. Enquanto o pequeno está decidindo o que construir, pergunte o que aconteceria se você colocasse o bloco em uma direção diferente. E quantos blocos seriam necessários para construir uma torre tão alta quanto a criança?
A brincadeira e a leitura
A brincadeira é a maneira de as crianças estarem no mundo. É importante oferecer espaço para que elas possam brincar. Esse espaço é o da imaginação.
“Por isso os livros são fundamentais para estimular também brincadeiras. Nele, as coisas não estão dadas. É preciso necessariamente da interação com o outro. A narrativa e as ilustrações vão convidando a esse criar”, explica Denise Guilherme, educadora e fundadora da A Taba, clube de assinatura de livros infantis.
Como diz a psicóloga e mestre em Literatura comparada pela USP, Ninfa Parreiras em seu livro
O brinquedo na literatura infantil: uma leitura psicanalítica (Ed. Biruta), a literatura como brinquedo não é uma novidade da idade contemporânea, mas é, sim, uma marca das criações artísticas comprometidas com o belo e com o deleite.
A literatura como brinquedo abre caminhos para a criança se defrontar consigo mesma e com os outros ao permitir a subjetivação e a criação de si, tão necessárias à infância.
“Quando o livro estimula uma brincadeira é como se aquela história não terminasse ali. Ela continua depois nas relações que a família e as crianças farão com aquela obra e o próprio cotidiano e muitas conversas podem surgir daí”, completa Denise.
É no brincar que as crianças convidam os adultos a olhar o mundo — assim como elas — com olhos de quem pergunta.
Mais que brinquedos, para brincar é preciso conviver, se relacionar, trocar. Para apoiar as famílias e ampliar as possibilidades para além das telas e brinquedos, a equipe de curadoria da A Taba preparou um e-book com brincadeiras. As educadoras e pesquisadoras de literatura infantil reuniram brincadeiras que resgatam as relações e tem tudo a ver com leitura.
De jogos de tabuleiro a desafios para criar histórias, as brincadeiras proporcionam o que é mais valioso entre adultos e crianças: vínculos, boas conversas e um tempo de qualidade compartilhado.
O e-book Guia de Brincadeiras está disponível
neste link.
Website:
http://www.ataba.com.br