Releases 21/01/2016 - 11:12

Relato biográfico traz um novo olhar sobre a fé


São Paulo - SP--(DINO - 21 jan, 2016) - No próximo dia 21, é comemorado o Dia Mundial da Religião. Mudanças e novos olhares para as instituições religiosas foram frequentes nos últimos anos. O Papa Francisco conseguiu dialogar com outros líderes religiosos e políticos, bem como quebrou paradigmas da Igreja Católica. No entanto, além apontar a diminuição do número de católicos e aumento da população evangélica, o último Censo Demográfico do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), mostrou o crescimento do número de pessoas que se declaram sem religião. Em meio a essas pessoas, está a psicanalista Ana Mariza Fontoura Vidal, que há décadas aderiu ao que chama de "Cristianismo não religioso".

"As pessoas estão sedentas por algo mais puro", diz Ana Mariza, autora do livro 'A beleza última' (Editora Schoba, 2015, 180 pp.). Na obra, por meio de um relato autobiográfico, a autora explica que é possível exercer a fé cristã, sem qualquer vinculação a instituições religiosas. Acima de descrever uma experiência pessoal, Ana traz uma discussão fundamentada em grandes filósofos e teólogos que falam da tríade: homem, fé e religião.

A autora explica que o Cristianismo tem um forte vínculo com a Igreja Católica, pois foi a responsável por conservá-lo até o século XXI. Contudo, nos dias de hoje, ele não precisa mais ser encarado como uma religião, mas sim como uma prática de vida, sem dogmas, rituais específicos ou mesmo um templo. "Não vejo necessidade de modernização da Igreja, ela pode ser uma alternativa, mas não é a única para quem quer ser cristão", pontua.

Em tempos de crise, muitos tendem a buscar apoio divino para superar dificuldades. Apesar disso, de acordo com Ana Mariza, as pessoas se afastam das instituições religiosas por flagrarem condutas que discordam dentro destas. A quem se reconhece nesse dilema, ela sugere a adoção da filosofia do "Cristianismo não religioso", que propõe o diálogo com Deus, sem a necessidade de intermediários.

A neutralidade das igrejas

Dentre os teólogos que estudou, Ana foi cativada pelo alemão Dietrich Bonhoeffer, que foi pastor da Igreja Luterana no período que antecedeu a Segunda Guerra Mundial. À época, o pastor criticou abertamente o totalitarismo e o silêncio das igrejas perante às atrocidades que eram pregadas pelo movimento nacional-socialista que, tempos mais tarde, foi o responsável pelo levante de Hitler. Por suas críticas ferrenhas, Bonhoeffer foi acusado de ter sido cúmplice no plano de assassinar o ditador, e passou os anos que lhe restavam na cadeia, onde escreveu cartas e poemas considerados como clássicos cristãos.

Com olhar crítico, Bonhoeffer também apontou a queda da credibilidade moral das igrejas, que pareciam ter receio de perderem os privilégios clericais com as guerras. Sendo assim, ofereciam uma religião que obedecia aos próprios interesses, esquecendo-se dos oprimidos, num momento em que eles mais precisavam delas. A pertinência dos argumentos do teólogo conquistaram a psicanalista, que o tem como um dos principais estudiosos da cristologia, centrada nos ensinamentos deixados por Jesus Cristo.

Experiência mística

Filha de um museólogo e de uma funcionária pública, Ana diz que não teve influência religiosa dos pais, que eram agnósticos. "Meu pai dizia: a gente não sabe de onde veio e para onde vai, logo, temos de fazer o melhor que pudermos. Cresci com esse pensamento", elucida, explicando que, apesar de nunca ter frequentado igrejas, sempre manteve respeito pela crença das pessoas. A vida da psicanalista mudou há cerca de 30 anos, quando passou por uma experiência inesperada.

Numa reunião entre amigos, a conversa começou a girar em torno de assuntos místicos. Sempre muito respeitosa à fé alheia, Ana ouviu os argumentos dos presentes, que sugeriram que fosse feita uma oração. Mesmo sem vínculos religiosos, Ana consentiu, por educação, com a vontade dos amigos. Contudo, quando a oração foi iniciada, a psicanalista sentiu-se tocada com algo inexplicável, que a levou às lágrimas. A partir dessa vivência, a pesquisadora foi procurar explicações para o que havia sentido e passou a se interessar por literaturas voltadas ao sagrado e a relação desse com o homem.

O profissional e o pessoal

Psicanalista há 35 anos, Ana afirma não levar Deus para dentro do consultório e separar suas crenças particulares, do diagnóstico e tratamento dos pacientes. Como realização pessoal, ela escreveu o livro para mostrar que fé e religião são dimensões diferentes de se relacionar com o sagrado. "Muitas pessoas querem fugir da superficialidade e buscar por algo que transcende tudo isso. Para elas, apresento um modo diferente de crer. Sim, é possível recorrer a Deus sem intermediários." finaliza.

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