São Paulo-SP--(
DINO - 30 mar, 2016) -
A economia brasileira corre o risco de sofrer desindustrialização ainda maior nos próximos anos em decorrência da crescente perda de competitividade industrial.
Entre os países da Europa e América Latina, o Brasil apresenta o mais baixo índice de produtividade, de 44,2, em uma escala de zero a dez, aponta o estudo "Latin America 4.0: The Digital Transformation in the Value Chain" produzido pelo Centro de Transformação Digital do gA (Grupo ASSA), companhia líder global em transformação de negócios na América Latina, sob a direção acadêmica de Raul Katz, diretor de Investigação Estratégica Empresarial da Universidade de Columbia e que acaba de ser anunciado também como novo diretor de Transformação Digital do gA.
O estudo baseia-se em informações coletadas junto a 75 executivos de importantes empresas da Argentina, Brasil, Chile, Colômbia e México pertencentes a sete setores industriais: Retail, Bens de Consumo, Recursos Naturais, Manufatura, Life Science, Serviços Financeiros e Telecomunicações e Transporte e Logística. Os resultados foram combinados com a análise de dados industriais nacionais dos principais setores da economia dos cinco países eixos do estudo (Argentina, Brasil, Chile, Colômbia e México).
Uma conclusão também preocupante: a imensa maioria das empresas latino-americanas ainda não sabe como ganhar dinheiro, gerar negócios e serem mais produtivas apesar dos maciços investimentos feitos em novas tecnologias. As empresas investiram cerca de US$ 130 bilhões no ano passado, mas estão praticamente estagnadas. Crescem pouco e são improdutivas, aponta o estudo, até o momento, único ao oferecer informações e análises centradas na América Latina, o que permite uma visão altamente conectada com o mercado da região e os desafios que os executivos latino-americanos experimentam sobre os estímulos da era digital em seus negócios em uma zona de diversos cenários econômicos.
O estudo conclui que na América Latina a transformação digital segue crucial para as empresas. Nos próximos anos a região crescerá em um ritmo mais lento em comparação a década passada, como consequência da baixa mundial dos preços das commodities, o que torna necessário enfrentar o desafio da produtividade e competitividade industrial mediante uma assimilação intensa das tecnologias digitais. Segundo o estudo, ainda que a adoção de tecnologias digitais seja alta entre as indústrias, seu impacto na cadeia de valor continua baixo. Alguns dados que se destacam no relatório:
. A maioria das empresas (75%) conta com alguma forma de estratégia digital, ainda que seu nível médio de preparação para implementá-la alcance apenas 46%.
. Aproximadamente 50% dos executivos entrevistados admitiram que as iniciativas digitais estão alinhadas em silos, em lugar de estender-se ao longo da organização.
. A indústria de serviços está mais avançada na digitalização, especialmente saúde, finanças e telecomunicações, as quais alcançaram um grau de satisfação superior; enquanto as extrativas, em particular mineração, petróleo e gás, avançam em passos mais lentos.
. Dentro deste contexto, o estudo aponta que entre os países da Europa e América Latina, o Brasil apresenta o mais baixo índice de produtividade, de 44,2. Assim como grande parte das empresas latino-americanas, as companhias brasileiras ainda não conseguem retornar o investimento, gerar negócios e serem mais produtivas apesar dos maciços investimentos feitos em novas tecnologias.
. Apesar da adoção extremamente elevada das tecnologias digitais (por exemplo, a América Latina é a região do mundo que utiliza as redes sociais mais intensamente em relação à penetração da Internet), sua contribuição com o crescimento da produtividade continua baixo. Isso ocorre porque para digitalizar a produção não é suficiente o investimento em equipamentos, é preciso demonstrar melhoras na produtividade, combinando a adoção das tecnologias digitais com um trabalho meticuloso de reorganização de processos, reestruturação da organização e capacitação dos recursos humanos. A adoção de tecnologias digitais não gera uma melhora nem automática, nem simultânea na produtividade.
. Em muitos casos, a implantação paralela de processos de negócio manuais e digitalizados tem acarretado ineficiências importantes. Tudo isso aponta a necessidade de acumular capital intangível, pessoas treinadas, com habilidades, e multidisciplinares, o que gera a diferença entre o preço de aquisição de tecnologias digitais e o valor criado pelas mesmas, uma vez que são assimiladas de maneira produtiva. O capital intangível não pode ser adquirido no mercado, e sim acumulado internamente.
Os setores mais avançados na digitalização no Brasil são Telecomunicações e Logística, Bens de consumo, e Ciências da Saúde (indústria farmacêutica). Por outro lado, os setores menos avançados em digitalização são Manufatura, Energia e Recursos Naturais. A posição relativa do Brasil em termos de sua capacidade para encarar a transformação digital de empresas é uma desvantagem importante. As áreas frágeis são: Cultura e grau de preparação para encarar a transformação digital; Barreiras institucionais à transformação digital; Definição de indicadores de desempenho.
O principal problema é que falta uma estratégia digital para a empresa como um todo. Presidentes e diretores não se envolvem, a tecnologia fica escondida em silos, apartados dos demais, não é uma prioridade corporativa para elevar a produtividade. "Falta desenvolver uma visão digital", enfatiza Katz. "O grau de preparação das empresas latino-americanas para alcançar esta transformação depende de uma visão estratégica para o conjunto da empresa e um programa de construção de capacidades", recomenda. O Brasil também ocupa pior posição (41,7) em matéria de capacidade para implementar a transformação digital.