Piracicaba, SP--(
DINO - 22 set, 2016) - Há 3 anos desisti de uma carreira promissora numa multinacional e, como consequência, desisti também de um salário ótimo, benefícios envolventes e status (sim, mesmo que você não ligue para isso, vem junto no pacote!). Eu trabalhava em São Paulo, na capital, enquanto minha esposa e meus três filhos ficavam no interior do estado. Nos víamos apenas aos finais de semana e o problema é que você não consegue ser pai e marido somente dois dias da semana. Tudo bem, podem falar que o que importa são os momentos especiais, que é preciso valorizar o tempo que estão juntos, que está pensando no futuro e mais num monte de argumentos para justificar a situação. Acontece que tem "momentos mágicos" que ocorrem no dia a dia, num café da manhã, numa reunião da escola, ouvindo uma música juntos no carro e muitos outros que só a convivência proporciona. A afetividade verdadeira precisa de um ingrediente que é o tempo. Além do mais, quando estava com eles, só tinha na cabeça metas, indicadores, pendências e todos esses ladrões de paz. Não bastasse, o dia era muito curto para dar conta de todo o trabalho. Eram 12, 13, 14 horas por dia de trabalho sob pressão. Metas e mais metas, viagens quase que diárias, e ainda ficava aquele sentimento de dever não cumprido, de culpa por não ter dado conta.
Eu já vinha há um tempo com umas "minhocas" na cabeça sobre se tudo isso valeria a pena... E aí veio a gota d'água: Depois de um dia estressante com uma dose cavalar de reuniões duras, cobranças e a sempre falta de tempo (e de esperança) em resolver tudo que era preciso, tive um "piripaque" a caminho do aeroporto de Viracopos. Quando cheguei no aeroporto, fui direto para a enfermaria e pude ver nos olhos e na rapidez do médico que o negócio era sério. Pressão lá nas alturas e muita dor de cabeça. Um funcionário da empresa aérea foi chamado para que cancelasse a minha viagem. Fui medicado e precisei ficar em observação por várias horas, até que o médico tivesse certeza de que estava estável. Perguntei a ele o que houve e nunca mais esqueci da resposta: "Receita completa para AVC, e AVC ou mata, ou aleija". Nesse dia tomei a decisão de sair.
Fiquei uma semana de licença em casa e fiz todos os exames necessários. Não tinha nada de anormal e a única culpada foi a alta carga de estresse. Aproveitei os dias de descanso para repensar a vida e, principalmente, fazer contas e traçar um plano do que fazer dali para frente. Algumas mudanças e ações que eu já havia iniciado - acredito que inconscientemente estava preparando o caminho para este momento ? foram cruciais para que eu pudesse iniciar este novo ciclo na minha vida e da minha família. Até estou pensando em fazer um artigo contando em detalhes, como se fossem dicas. Quem sabe?
Neste período de descanso passei alguns dias na casa de meus pais, que moram na mesma cidade. Numa dessas ocasiões estava lendo o jornal local e me deparei com alguns anúncios de negócios à venda, inclusive de uma loja virtual. Não me interessei por nada no momento e deixei o jornal de lado, no sofá que ficava na varanda. O interessante é que à noite, enquanto tomava o meu banho, me veio à mente o anúncio da loja virtual. Combinei comigo mesmo que se o jornal ainda estivesse lá no outro dia eu iria entrar em contato com o anunciante. O problema é que minha mãe sempre jogava fora os jornais velhos. Surpresa mesmo foi chegar lá no outro dia e encontrar o jornal no mesmo lugar que tinha deixado! Peguei o contato e liguei na hora. Comprei! A loja se chamava As Canecas Mais Legais do Mundo (
www.ascanecasmaislegaisdomundo.com.br), tinha apenas um ano de vida e poucos produtos à venda. Mas o conceito da loja, de focar num produto específico e só trabalhar com produtos criativos e diferentes me cativou. Costumo até falar que foi a loja que me comprou e não eu que a comprei!
Assim que a licença terminou voltei ao trabalho e pedi demissão. Trabalhei ainda por mais três meses. Afinal, consciência tranquila são outros quinhentos.
Bem, desde então voltei a viver! O ritmo diminuiu, o dinheiro também, mas em compensação hoje sei o que é ser pai sempre presente e ser um companheiro de verdade da minha esposa! Aprendi a cozinhar e agora quem faz as refeições (saudáveis) lá em casa para todos sou eu! É claro que muitas mordomias foram cortadas, mas os momentos especiais que tenho com as pessoas que amo e que acontecem na sutiliza da rotina diária pagam qualquer coisa!
A loja me deu a oportunidade de ter mais tempo para mim, aprender sobre novos assuntos e também parar para pensar melhor nas coisas da vida. Antes, a cabeça ficava à mil, não tinha espaço para contemplar as coisas, as pessoas, a vida. Poder fazer isso é de uma evolução sem tamanho!
Por favor, não me interpretem mal. O trabalho não é o vilão desta história. O problema começa quando a sua vida passa a girar em torno das metas de uma corporação e os momentos com as pessoas que fazem parte do seu campo afetivo se tornam "pequenos espasmos de momentos especiais". Converso com muitas pessoas de idade mais avançada e, quando pergunto o que gostariam de ter feito na vida quando eram mais novos, a resposta é sempre a mesma: Ter aproveitado mais o tempo com os filhos pequenos...
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http://www.ascanecasmaislegaisdomundo.com.br/