Releases 27/05/2016 - 12:58

A escola alemã para gestores de bancos centrais, segundo Flavio Maluf


(DINO - 27 mai, 2016) - "O chamado deus dos exércitos está sempre do lado da nação que tem os melhores generais.". A frase do filósofo francês Ernest Renan parece ser seguida à risca por uma nação vizinha: No vale de Hachenburg, na Alemanha, um antigo castelo do século XII abriga, isolado a pelo menos 50km das cidades mais próximas, uma escola ? mantida pelo Bundesbank, o banco central alemão ? especializada em formar gestores de bancos centrais em que, segundo o reitor Erich Keller, só frequentam estudantes que tem aversão a risco.

"No período pós-guerra em meados dos anos 20, a Europa se viu em meio a uma severa crise de subprodução: Depois da primeira guerra mundial, os bens de consumo produzidos não eram suficientes para suprir a necessidade da população europeia, pois a indústria de bens de consumo foi deixada de lado, sofrendo detrimento em relação às prioridades de guerra", explica Flavio Maluf, empresário brasileiro que comenta o assunto.

"Em meio à inflação absurda que o continente experimentou, o Bundesbank se comprometeu a atuar irrevogavelmente a favor da estabilidade econômica alemã e essa é a mesma premissa que o faz formar novos gestores continuamente na Universidade Deutsche Bundesbank de Ciências Aplicadas, mesmo indicando apenas um nome para compor o conselho diretor do Banco Central Europeu que conta com 25 membros, desde 2002 quando o euro chegou e extinguiu o marco alemão", complementa Flavio Maluf.

O programa da Universidade tem duração de três anos e aproximadamente 10 mil funcionários do Bundesbank já o concluíram. "Eles têm um compromisso forte com a estabilidade que é corroborado pela confiança que os alemães depositam no Bundesbank. Como diria Jacques Delors quando foi presidente da comissão entre os anos 80 e 90: "Nem todos os alemães acreditam em Deus, mas todos acreditam no Bundesbank", conta Flavio Maluf. "Ele conserva a confiança que arrebanhou nas diversas ocasiões em que demonstrou força e provou ao povo alemão ser um alicerce sólido para a nação. Durante décadas conseguiu manter uma política de juros independente, contra tudo e todos e se tornou um modelo para o Banco Central Europeu, por ser pioneiro em sua total independência".

A universidade, especializada em formar gestores de bancos centrais, se propõe a formar na nova geração, novos gestores com a mesma visão e percepção que mantem a solidez do Bundesbank. As aulas para seus 350 alunos ocorrem no Schloss Hachenburg, antigo palácio de condes locais, em que os livros alemães são usados pelo corpo docente acreditar na maior precisão da abordagem alemã, se comparada aos livros americanos.

Uma escola estratégica do Bundesbank para a economia alemã

Mas, porque preparar tantos novos formandos, tendo inclusive vários membros da alta cúpula formados pela sua universidade, com uma rotatividade tão pequena (cerca de 80% dos colaboradores formados pela Universidade trabalham há mais de dez anos no banco) e tendo diminuído à aproximadamente metade o seu número de funcionários desde o início da década de 90? É interessante avaliar isso, e ainda mais quando a universidade ainda pretende aumentar sua próxima turma em 15%, haja vista a acirrada concorrência para ingresso na instituição: são dez candidatos para cada vaga e compromisso de trabalhar no Bundesbank por pelo menos cinco anos após a formatura, como forma de reverter em benefícios à instituição a bolsa de aproximadamente 1.400 euros mensais que recebem para se dedicar aos estudos.

O empresário brasileiro Flavio Maluf nos dá uma dimensão dos motivos disso: "Apesar de ser hoje subordinado ao BCE, o Bundesbank ainda é o triplo dele. O BCE define a política monetária dos 19 países que fazem parte da zona do Euro. Imagine que pela sua história e pelo seu tamanho, a influência dele na instituição é imensa".

Maluf ainda acrescenta: "O momento na Europa é de instabilidade: A chegada constante de refugiados, o terrorismo e a iminente saída do Reino Unido do bloco provocam essa reação no Bundesbank de proteger seus poupadores das iniciativas que o BCE anda experimentado para estimular a economia europeia estagnada. Comprando títulos de dívidas dos membros do bloco, introduzindo taxas de juros negativas, isso está provocando uma reação do Bundesbank. Como são aversos à instabilidade, o banco alemão está trazendo de volta as vultuosas quantias de ouro alemão de cofres franceses e americanos.

"O Bundesbank está utilizando a estratégia de valorizar o potencial dos alunos de forma a cativá-los quando seu valor de mercado for plenamente reconhecido. Ele está claramente preparando e conquistando generais para futuros tempos em que vai agir como uma fortaleza", finaliza Flavio Maluf.