Releases 25/01/2016 - 09:22

Investir em Olimpíadas ou "gastar" com a saúde?


(DINO - 25 jan, 2016) - Muito recentemente vimos o poder público municipal e estadual solicitando ajuda federal em caráter de urgência pela falência dos serviços públicos de saúde na cidade e no estado do Rio de Janeiro. Num exercício de memória não muito sofisticado lembro que há 18 meses (um ano e meio) era reinaugurado o Maracanã após reformas para a copa do mundo de futebol (FIFA 2014), com "investimentos" que superaram 1 bilhão de reais. O gasto total com todos os estádios para copa do mundo de futebol em 2014 chegou a 8,48 bilhões de reais. Recentemente foi inaugurado o Museu do Amanhã que custou cerca de R$ 215 milhões de reais aos cofres públicos, já que oferece (a longo prazo) um retorno imobiliário e turístico. O réveillon 2016 no Rio de Janeiro celebrou a chegada dos jogos olímpicos e os 100 anos do samba com a queima de 24 toneladas de fogos de artifício. Além disso, apresentaram-se em shows vários artistas e claro, as baterias de escolas de samba com cachê pago pela Prefeitura. Enquanto isso o ministério público precisou acionar as autoridades para o cumprimento dos pagamentos das instituições e profissionais de saúde.

Estimativas revelam que o custo das obras para a Olimpíada de 2016, no Rio, vai chegar a mais de R$ 36 bilhões de reais. Em obras polemicas como a construção de um campo de golfe sobre uma area de preservação ambiental, a prefeitura responderá no futuro.

Nada contra o futebol, nem contra museus nem tampouco contra as olimpíadas e o samba, mas não seria momento de inquirir dos governantes qual seu plano de gestão de curto, médio e longo prazo para saúde? Porque tanto dinheiro gasto pelos governos em temas que são para o entretenimento e tão pouco em temas mais importantes como a saúde, direito dos brasileiros. Há dinheiro, subsídios e parcerias para eventos internacionais enquanto falta para a saúde?

O que vemos hoje não somente no Rio de Janeiro mas em praticamente todo o Brasil é uma crise sem precedentes da saúde. Para quem milita na saúde e pensa um pouco sobre o sistema vigente no Brasil não fica difícil perceber o abismo que existe na prestação de serviços de saúde que só funciona a base de programas temporários e propaganda. Necessitamos de mais verbas, mais equipamentos, mais medicamentos, mais bons médicos, entretanto o principal é uma gestão profissional da saúde com escala de prioridades, programação, otimização dos recursos e minimização de perdas. Tal medida exige profissionais capacitados e com conhecimento técnico adequado e não políticos interessados em explorar as misérias humanas na obtenção de votos.

Espero que esta crise sirva para uma reflexão mais profunda sobre as reais necessidades de saúde do nosso povo. Que a sociedade civil se mobilize diante das prioridades afinal quantos programas e siglas veremos sem que haja uma solução a altura de 40% de impostos que pagamos sobre tudo o que produzimos? Caso isso não seja feito ainda vamos tomar uma goleada maior que os 7 x 1 que amargamos contra a Alemanha, será uma derrota ainda mais humilhante, porque perderemos para nós mesmos.

* é medico cardiologista e fundador da MHV Serviços Médicos