Releases 07/03/2016 - 15:47

Crise no Brasil relembra momentos da "gripe" econômica espanhola


(DINO - 07 mar, 2016) - Por Roberto Carlos Mayer*

A estagnação enfrentada pela União Europeia a partir de 2008 se converteu em crise econômica em vários países do Sul da Europa.

Em particular, Espanha e Portugal, que são as "pátrias mãe" da América Latina, e em tese possuem as culturas mais próximas das nossas, passaram (e ainda passam, parcialmente) por um período de intensas turbulências.

Entretanto, as formas de lidar com a crise não foram homogêneas na Espanha e em Portugal. Uma comparação entre os países é favorável à Espanha em muitos aspectos: sua população é pouco mais de quatro vezes maior que a de Portugal, a economia espanhola leva vantagem ainda maior, com renda per capita na ordem de 105% da média europeia, contra 80% da média portuguesa.

Em 2009, a dívida pública em Portugal se situava em 75% do PIB, enquanto a da Espanha estava ao redor dos 55%. A taxa de desemprego, porém, que era de 9% em Portugal, estava em 18% na Espanha.

Qual destes dois países superou a crise mais rapidamente? Mesmo com essa desvantagem numérica aparente, Portugal reagiu de forma muito mais rápida que a Espanha: Portugal antecipou as datas de pagamento dos empréstimos internacionais negociados no momento de crise, voltando à quase normalidade já em 2013.

Em 2015 a economia espanhola saiu de uma longa recessão, superando uma "segunda gripe" espanhola, embora ainda continuem vivendo com a percepção de crise.

Mesmo contando, em tese, com maiores recursos, a crise espanhola foi mais profunda que a portuguesa em função do despreparo psicológico para lidar com uma situação como essa.

Desde o fim da ditadura de Franco em 1980, seguida da redemocratização e integração na União Europeia, a Espanha passou por quase três décadas de crescimento econômico continuado.

Assim, apenas indivíduos com cinquenta anos ou mais possuem ainda lembranças claras de outra situação econômica. Já em Portugal, nunca houve um período tão longo de bonança continuada.

Apesar de sermos no Brasil herdeiros da cultura lusitana, existe uma impressão geral de que estamos atravessando, na atual crise, um desânimo generalizado semelhante ao que se implantou na Espanha: desde as primeiras reformas de 1993 que levaram ao Plano Real, o Brasil não enfrentou nenhuma crise maior, que afetasse toda a população.

Em função disso, todos os cidadãos nascidos desde 1975 não possuem registro mental de situação de crise econômica, hiperinflação e outras graves dificuldades econômicas, como as do plano Collor.

Casos de êxito econômico nos países vizinhos do Brasil, que possam servir de inspiração para nós, são praticamente desconhecidos pela população em geral: pergunte por aí quem sabe quais são os países membros da Aliança do Pacífico, por exemplo.

Resta-nos, portanto, buscar inspiração na nossa pátria-mãe, arregaçar as mangas e trabalhar mais intensamente para superar a situação, sem buscar qualquer "bode expiatório". Não podemos permitir que a essa "nova gripe" espanhola arrase a nossa consciência coletiva e prolongue a crise de forma desnecessária.

*Roberto Carlos Mayer (rocmayer@mbi.com.br) é diretor da MBI, diretor de comunicação da Assespro Nacional (Federação das Associações das Empresas de TI) e presidente da ALETI (Federação das Entidades de TI da América Latina, Caribe, Portugal e Espanha).