Orlando, Florida, EUA--(
DINO - 27 abr, 2016) - Por Claudemir Oliveira, PhD*
Tenho assistido muitos vídeos do Steve Jobs que me inspiraram a escrever este artigo há alguns anos. Uma das passagens que mais me impressionou foi quando ele fala sobre riscos, no início de sua empresa: "Não tínhamos nada a perder, eu tinha 20 anos na época, o Wozniack tinha seus 25. Não tínhamos absolutamente nada a perder. Não tínhamos família, filhos ou casas. Wozniack tinha um carro velho, eu tinha um Volkswagen velho também? tínhamos tudo para ganhar. E percebemos que mesmo que a gente quebrasse, queimasse, perdesse tudo, a experiência seria dez vezes mais valiosa que o custo da perda. Não havia risco!" Isto também me faz lembrar da frase de Theodore Roosevelt: "É muito melhor lançar-se em busca de conquistas grandiosas, mesmo expondo-se ao fracasso, do que alinhar-se com os pobres de espírito, que nem gozam nem sofrem muito, porque vivem numa penumbra cinzenta onde não conhecem nem vitória, nem derrota."
Fiquei fascinado com a parte que Steve fala da riqueza da experiência, caso viesse a fracassar. Ele usa literalmente o verbo "quebrar" e "queimar". Mesmo assim, a experiência seria 10 vezes mais valiosa. O que dizer desta afirmação?
Lembrei-me da conferência de Coaching da Harvard que participei em 2013 onde falavam de nossa zona de conforto, zona de aprendizagem e zona de risco. Steve Jobs está literalmente dizendo que ao entrar na zona de perigo, nós crescemos, nós aprendemos, saímos melhor do que entramos. Em 2013, tive de entrar em zonas de riscos algumas vezes, criando novos programas de negócios, eventos pelo Brasil e apenas um deles posso considerar que financeiramente foi um "fracasso". No entanto, as lições tiradas da experiência valeram dez vezes mais que o que foi perdido, para usar a mesma analogia do Steve Jobs. Aplicar o aprendido torna a empresa mais lucrativa a médio, longo prazo. Sair da zona do conforto é importante porque, ao acertar ou errar, você sai ganhando. Não estou aqui dizendo para que saiamos todos cometendo erros, não é isto. Até riscos podem e devem ser calculados, caso contrário, chamaríamos de "suicídio". Não é o caso. Mesmo no exemplo da Apple, eles eram calculados. Como? O próprio Steve diz que só tinha um carro velho, não tinha família, não tinha filhos, ou seja, ele está aí fazendo cálculos. O problema é que muita gente não consegue dimensionar uma situação e acaba achando que o possuído é muito e não quer abrir mão de nada. Portanto, zona de conforto pode significar zona da estagnação. Água morna adormece qualquer um. Às vezes, precisamos ir para o gelo ou para o fogo. Adoro a frase, se não me engano é de Shakespeare, "mares calmos não fazem bons marinheiros".
Todos sabem de minha paixão por Walt Disney. Ele e seu irmão Roy Disney começaram seu estúdio na garagem de seu tio com USD 500,00 dólares emprestados. Isto mesmo: não foi na garagem deles, nem com o dinheiro deles. No Seeds of Dreams Institute, nossos valores são inspiração, transpiração, transformação e transcendência. Nos negócios de gênios como Steve, Disney e tantos outros é a inspiração que os move. A garagem é a transpiração, é onde regamos nossas sementes de sonhos com água, suor e lágrima. A transformação é todo sonho dentro da garagem transformado em realidade, ou seja, a Apple, a Disney, etc. E transcendência, Claudemir? Seus criadores não estão mais presentes, no entanto, suas empresas continuam a inspirar, continuam a transpirar, continuam transformando gerações e, óbvio, continuam transcendendo. Semana passada, o presidente da FCU, Dr. Anthony Portigliatti, me falava do poder de não subestimar o "intangível". Lembrei de nossa conversa porque os sonhos destes criadores pareciam ser intangíveis. Para usar uma expressão da Psicologia Positiva, os sonhadores vivem em "flow", vivem tão compenetrados em seus sonhos que se esquecem de qualquer adversidade. Henry Ford dizia que "obstáculos são aquelas coisas terríveis que você vê quando desvia os olhos de seu objetivo". Aí está o segredo. São garagens sem teto, onde a imaginação voa solta no infinito celeste e além.
Abro um parêntese para fazer justiça àqueles que trabalham por trás das cortinas, nos bastidores; no caso da Apple e da Disney, existem duas pessoas que não recebem o holofote justo pelo que representam para estas duas empresas extraordinárias. Steve Jobs, muito provavelmente, não teria sucedido com a Apple se não fosse pela genialidade de Steve Wozniak.
No caso da história de Walt Disney, área que pesquiso há mais de 20 anos, posso afirmar que, sem Roy, a empresa não existiria. Tenho vários argumentos, mas devido a espaço, sempre lembro que Walt Disney faliu duas vezes antes de se unir ao irmão, um gênio financeiro. Walt era mais criativo, mas era seu irmão que contava os centavos.
A resposta porque isto acontece, ou seja, apenas um aparece, vem do próprio Walt Disney. Ele dizia que o holofote sempre fica melhor apenas numa pessoa. E não se assuste, ele levou isto ao pé da letra. Conta a história que foi o próprio Walt Disney que mudou o nome Disney Brothers Studio para Walt Disney Studios. O ego de Walt não era nada pequeno. Mais uma razão para eu admirar Roy Disney, pois estava feliz em ajudar o irmão a realizar seus sonhos. Não se incomodava tanto em ter o segundo posto.
Naturalmente que a própria essência de Steve Jobs e Walt Disney os levariam ao holofote. Minha questão é apenas de reconhecimento àqueles que trabalharam por trás das cortinas.
Ao pesquisar as empresas que foram fundadas em garagem, notei algo bem interessante. A maioria delas sempre começaram com duas pessoas. A Harley Davidson, em 1903, fundada por William Harley e Arthur Davidson; a Disney, por Walt Disney e Roy Disney, em 1923; a HP, em 1939, por Bill Hewlett & David Packard, numa garagem de uma casa alugada; a Mattel, em 1945, por Ruth Handler e Elliot Handler; a Nike, em 1964, por Phil Knight & Bill Bowerman; a própria Apple, em 1976, por Steve Jobs e Steve Wozniak; Google, por Larry Page e Sergey Brin, em 1978; existem mais casos como a Amazon, Intell, Brother"s Wright, Youtube, além dos casos de sucesso que começaram num quarto de universidade como Facebook e Dell.
Fiz questão de listar a maioria, com datas, apenas para ressaltar algo que os novos empreendedores tem de entender. Quase ninguém começa com palácios e o normal é subir pelas escadas. Decididamente não existem elevadores na caminhada para o sucesso. A história destas empresas nos traz a certeza que sonhos são maiores que o espaço físico onde começamos. É a visão extraordinária da colheita que fazem estas pessoas plantarem e regarem seus sonhos dia e noite, noite e dia. É a visão do futuro e não necessariamente do presente e muito menos do passado. Hoje em dia, vejo novos empreendedores com vergonha de começarem com um escritório pequeno. São estes que correm um sério risco de acabar em uma garagem aprisionados por falta de humildade e talvez nunca saiam de lá. Não é o tamanho do local, mas o tamanho de seus sonhos que conta. Você só fica na garagem se seus sonhos forem do tamanho dela. Sonhadores que ficam no blá-blá-blá, existem milhões. São poucos os que pagam o preço. Por isto, temos de nos espelhar nestas pessoas que fizeram, desde suas garagens, o mundo mudar.
Para terminar, uma garagem é como uma semente que, ao ser plantada e germinada no terreno correto, com a visão e dedicação correta e constante, dará sombra e frutas em abundância por gerações. Hoje, devemos ser gratos a estes gênios que nos presenteiam, diariamente, com suas colheitas. "Feliz do homem que planta árvores sabendo que não usufruirá da sombra, nem dos frutos". Ele nos deixa legado.
P.S. Este artigo e meus anos na Disney me inspiraram a escrever um livro sobre 20 empresas que começaram em garagens e se tornaram impérios. Será publicado em 2017 depois do lançamento do livro sobre a vida de Walt Disney no segundo semestre de 2016.
* É presidente do Seeds of Dreams Institute, jornalista, pós-graduado em Marketing (ESPM) e Comunicação (ESPM), mestrado e PhD em Psicoterapia (EUA), com foco em Psicologia Positiva. É membro vitalício da Harvard University e referência internacional em Psicologia Positiva. Vive em Orlando desde 2000. Contato:
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